sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A Minha Infância

Minha Infância é o nome da escolinha que meus filhos estudam em Valente, cidade do interior da Bahia e que fica no sertãozão de meu Deus. Durante dois dias foi programado uma leva de apresentações dos alunos do maternal ao 5º ano, na Casa Brasil. O evento teve o nome de A Fabulosa Fábrica de Sonhos. Confesso que a principio fui na obrigação de pai e pouco animado devido a outras festinhas do tipo que já tive oportunidade de ir em anos anteriores e que não me impressionaram. Mas, este ano o amor da turma de funcionários, professores e diretores pelo bem-feito, somado a um inquestionável profissionalismo resultou numa festa maravilhosa.
Eu pessoalmente fui um dos mais atingidos por este ambiente lúdico e muito bem planejado por esta equipe fantástica. Da escolha dos figurinos (por um preço simbólico perante a plasticidade mostrada, diga-se de passagem) até a coreografia e cenografia, tudo foi perfeito.
Desde o começo com os menorzinhos olhando por baixo das cortinas antes da apresentação até o cuidado e atenção com as crianças com necessidades especiais, tivemos um show de grandes momentos. São observações pinceladas por mim e nos mostra uma profunda e positiva alternância de valores no mundo, ensina como nos equivocamos na avaliação das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos as preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos. É por isto que eventos assim são tão importantes nas nossas vidas.Peppa Pig, pelo que posso afiançar aqui em casa, é a personificação de desenhos animados de minha época como Mil e Mao, por exemplo. São só historinhas cheias de coisas positivas e exemplos bons. Foi com este tema que as apresentações tiveram inicio. Confesso que foi emocionante assistir a pró Zane dublando a própria voz em mensagens didáticas atentamente ouvidas por Peppas e Georges (nome do irmão de Peppa...kkkkk. Pois é, eu sei!) . Num só momento tivemos o mundo perfeito: o da inocência das crianças. Show!
Para não ser muito chato preciso generalizar um pouco e falar dos personagem, como Willy Wonka e seus Oompa Loompas, lindamente caracterizados e coreografados. Das lindas princesas e dançarinas, dos MC’s, dos Papai Noel e muitos outros. No olhar da criança não se vê a distinção entre o individuo e o personagem. Naquelas manhãs a mágica aconteceu com eles. Sem dúvidas eles são os próprios ídolos! Nestes dois dias com certeza subiram ao palco os próprios personagens. Poder único pertencente às crianças!Ao final, como não poderia deixar de ser num ambiente latino, uma pomba foi solta por uma criança. Poeticamente posso dizer que ela – a pombinha, símbolo da Paz – relutou em seguir em frente e ganhar os ares, pois atrás de si, no palco, estava a segurança e a pureza que nós adultos perdemos. A segurança e a pureza que só se encontra na infância. Na sua, na nossa e porque não, na Minha Infância.


Quero encerrar estes textinho com uma homengem a um grande escritor brasileiro que passou ao desconhecido esta semana. O matogrossense Manoel de Barros que, assim como as crianças, não hiperbolizava o caro. Valorizava ao extremo o simples.
Leia um tiquinho dele:
"Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim este atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundancia de ser feliz por isto.
Meu quintal é maior do que o mundo".
(Manoel de Barros *1916+2014)

domingo, 9 de novembro de 2014

Por favor, alguém mais velho do que eu levante a mão!




  Por muito tempo fui o caçula em quase tudo na vida. Da salinha do pré-primário até a faculdade e do meu primeiro até o último emprego sempre entrei sendo este tipo de personagem. Precisou de vários anos pra que a coisa deixasse de ser regra. Lamentavelmente, isto só aconteceu devido ao passamento dos meus colegas mais velhos, seja na aposentadoria ou mesmo no derradeiro adeus. Creio que eu, pelo menos nos jornais e assessorias em que trabalhei, tenha sido fadado a ser aquele que fechava a porta, o ciclo, etc. Somente a partir daí vinham os mais novos.
  Hipnotizado pela loucura de desde os meus 23 anos ter trabalhado em redação de jornal – e de fechamento quase todo o tempo – não me dei conta que a maioria destes passamentos se dava sem a minha devida atenção. Quantas vezes eu cheguei em A TARDE e procurava os mais próximos para pedir informações sobre algo gravíssimo que acontecera com um colega na noite anterior mais que no corre-corre do fechamento do jornal não pude dar atenção.
  “Quando entrei no jornal A TARDE, lá no comecinho dos anos 90 – em 1992, mais especificamente – encontrei um mundo “tão” diferente do que deixei no finalzinho da primeira década do século XXI....   Antes, era um mundo de gente que tinha história.”
  Inexplicavelmente, para mim, com o tempo estas pessoas foram sendo “trocadas”. Nunca, em nenhum destes passamentos eu encontrei uma resposta que justificasse esta troca! Os que ascendiam hierarquicamente com estas demissões levantavam a bandeira da justificativa do tipo: “fulano já estava cansado, aposentado, bem de vida ou até mesmo cometiam o puxa-saquismo descarado de dizer que patrão faz o que quer!”. Me alegro de lembrar de uns três que falaram isto e tempos depois saíram mais humilhados ainda.
  Na minha demissão pude assistir “do palco” que a platéia já não era a que conviveu comigo nas mais de cinco mil madrugadas... Claro que deixei alguns contemporâneos, mas foram poucos. De tecnologia do meu tempo somente a veterana rotativa – que já encontrei quando fui contratado, gente! Ela é de 1974... rsrsrsr), só que modernizada com sistema automático de abastecimento de tinta. Por sinal eu nem percebi que demitiram a equipe que fazia isto!
  A tradicional mesinha de centro, com centenas de laudas e diagramas de páginas em branco prontas para serem adornadas pelas velhas Remington (máquinas datilográficas) e réguas de paicas, respectivamente, não mais existia. Em seu lugar o dr. computador reina solene. Sem contar as citadas baixas na redação, acabaram com o setor de revisão e o emprego de mais de 30 colegas, o de fotocomposição com mais 50 colegas, o de montagem de arte-final com mais uns 30 colegas e passaram um pente-fino na parte de fotolito e gravação de chapas com a dona tecnologia nas artes gráficas.
  Hoje, já não tenho mais 23 anos. E nos lugares que ando – nas minhas novas redações da vida, porque não? – estou quase sempre na outra extremidade.

Então, hoje, me alegro por ter... história!