Morando pertinho da praia do Porto da Barra lá pelos anos 80 do século XX ouvi falar de um tal de topless que era a nova moda nas praias do exterior
e que tinha chegado por aqui. Ôpa, peitinhos (coisa rara de se ver naquela
época) ao vivo, pensei. Já no dia seguinte cheguei às 8 hs na praia e logo
acionei o radar. O tempo foi passando e nada de seios nus. Quase meio-dia e
nada. Quando eu já me preparava pra ir embora vejo bagunça, gritaria e até
areia jogada pra cima próximo a 2º escada. Quando me aproximei vi duas mulheres
com os seios cobertos com as respectivas saídas de praia indo embora correndo...
enfim, a moda acabou não pegando no século passado apesar de que já existiam as
mulatas semi-nuas de Sargentelli, as passistas de escolas de samba e por estas
bandas se segurava o tchan, se sentava na boquinha da garrafa, se cantava “chupa
toda” e pelo interior do Brasil a moda eternizara o forró de duplo sentido. Mas,
topless de jeito nenhum, fincava o Brasil puritano!
Recentemente, século XXI, não esqueçam, assisti na TV Globo
uma matéria sobre nova reação negativa das pessoas a topless no Rio de Janeiro
e voltei a presenciar a repetição da cena relatada acima na praia do Porto da
Barra. Na minha cabeça, a desculpa pra o preconceito no século passado era a
dificuldade de se ver “peitinhos” por aí, lembra?. E agora? Hoje, definitivamente,
acredito que o problema não era o “estranhismo” com a parte anatômica feminina.
Seios, bunda, vagina e pênis envolvidos num ambiente erotizado estão quase no
lugar comum pelo pouco critério com que são exibidos na televisão, internet e
revistas “sem plástico”.
Legalização do aborto e da maconha, direitos do homossexuais,
ética na política e direitos humanos sempre foram temas mais usados pelos
candidatos nas eleições para atacar adversários ao invés de discuti-los de
fato. Então, não se pode esperar que nada melhore. O preconceito ao topless
representa a cara que o brasileiro enxerga no espelho. Cínico, hipócrita e impostor.