domingo, 29 de junho de 2014

O Topless e a hipocrisia


Morando pertinho da praia do Porto da Barra lá pelos anos 80 do século XX ouvi falar de um tal de topless que era a nova moda nas praias do exterior e que tinha chegado por aqui. Ôpa, peitinhos (coisa rara de se ver naquela época) ao vivo, pensei. Já no dia seguinte cheguei às 8 hs na praia e logo acionei o radar. O tempo foi passando e nada de seios nus. Quase meio-dia e nada. Quando eu já me preparava pra ir embora vejo bagunça, gritaria e até areia jogada pra cima próximo a 2º escada. Quando me aproximei vi duas mulheres com os seios cobertos com as respectivas saídas de praia indo embora correndo... enfim, a moda acabou não pegando no século passado apesar de que já existiam as mulatas semi-nuas de Sargentelli, as passistas de escolas de samba e por estas bandas se segurava o tchan, se sentava na boquinha da garrafa, se cantava “chupa toda” e pelo interior do Brasil a moda eternizara o forró de duplo sentido. Mas, topless de jeito nenhum, fincava o Brasil puritano!
Recentemente, século XXI, não esqueçam, assisti na TV Globo uma matéria sobre nova reação negativa das pessoas a topless no Rio de Janeiro e voltei a presenciar a repetição da cena relatada acima na praia do Porto da Barra. Na minha cabeça, a desculpa pra o preconceito no século passado era a dificuldade de se ver “peitinhos” por aí, lembra?. E agora? Hoje, definitivamente, acredito que o problema não era o “estranhismo” com a parte anatômica feminina. Seios, bunda, vagina e pênis envolvidos num ambiente erotizado estão quase no lugar comum pelo pouco critério com que são exibidos na televisão, internet e revistas “sem plástico”.

Legalização do aborto e da maconha, direitos do homossexuais, ética na política e direitos humanos sempre foram temas mais usados pelos candidatos nas eleições para atacar adversários ao invés de discuti-los de fato. Então, não se pode esperar que nada melhore. O preconceito ao topless representa a cara que o brasileiro enxerga no espelho. Cínico, hipócrita e impostor. 

sábado, 28 de junho de 2014

A modinha no Brasil é a merda


Padaria vende pão e livraria vende livros, não é? A primeira entrega saúde e a segunda nos dá duas opções: papel com letras ou saber. Estava eu passeando alegremente por importante livraria de Salvador quando um insight me perturbou questionando-me sobre o motivo de se dar liberdade para que nós cidadãos comuns possamos pegar pela beleza das capas o que iremos ler. Há duas maneiras de ajudar um amigo: tirando os obstáculos de seu caminho ou dando-lhe o que necessita. Ora, a condição mais óbvia para o desenvolvimento da inteligência é a organização do saber. Discernir o importante do irrelevante é o ato inicial da inteligência. Então qual o motivo dos clássicos não estarem agrupados logo a frente dos olhos? Basta isto para que se adquira um senso da diferença entre títulos essenciais - o que importa - e o que não importa. Sem esforço consciente se adquiriria um senso de hierarquia e de orientação no tempo histórico e na cultura.
Só que aqui no Brasil isso não existe. A cultura é gerida para tornar o essencial indiscernível do irrelevante... dinheiro, dinheiro, dinheiro. O efêmero assume o peso do milenar e o irrelevante ocupa o centro do mundo. Simples que dá dó! Ninguém está a salvo, mesmo os mais letrados. Ninguém pode atravessar essa selva. Pra acabar com tudo os mais jovens estão chegando com a arrogância cibernética do sabe tudo estimulado pelo novo pai dos burros: A INTERNET. É impossível discutir com ela.

Quanto mais nos libertamos de um passado que daria sentido à nossa inteligência, mais nos tornamos escravos de uma atualidade que nos desorienta e debilita. Estamos perdidos no meio de um deserto onde é preciso recomeçar sempre o caminho, de novo e de novo, para não chegar à parte alguma. A ordem é esta!

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre o nada e sobre o tudo.

Ficar intermináveis minutos olhando para o horizonte cada dia faz mais sentido. Nestes instantes estamos na realidade atordoados pela quantidade de coisas que fizemos certo e que deram errado e as que fizemos errado e que deram certo. Nada na vida se pode medir de forma matemática, isto é fato. Reclamamos de qual falta? De um amor, de um carro, de uma casa, de saúde, enfim... de quase tudo. Só que os que já tiveram o tudo, pelo menos os citados anteriormente, com certeza ainda sentem a falta de algo. Mas que algo? Fernando Pessoa disse um dia: “... o mundo é de quem não sente e que a ausência de sensibilidade é a condição essencial para levar a vida“. Se ele estava certo podemos afirmar que esta eterna falta nada mais é que a suprema essência de vida. Eu entendo da seguinte forma sem procurar briga (também) com o finado escritor: Viver a vida é não matematizar as coisas. É viver independentemente da quantidade de ar. É viver mesmo se o troco vier faltando ou a mais.
Ontem me vi numa situação que pode se tornar a salvadora da pátria contra meus surtos psicóticos. Encontrei com uma amiga de mais de 90 anos de idade, bastante chorosa, segundo ela pela morte de uma sobrinha. Falei o básico de todas estas horas e se a falecida era uma pessoa próxima e tal. Ela respondeu que havia uns 40 anos que não tinha notícias dela. Pela resposta percebi que tinha sido indiscreto e tentei consertar falando que apesar do tempo sem se verem a sobrinha deveria ter sido muito boa com ela. “Demais, sempre me tratava bem, servia café quando eu ia lá na casa dela... proseava comigo um tempão!”, disse-me. Como eu sou o rei das merdas e pra fechar com chave de ouro perguntei se esta sobrinha já tinha vindo na sua casa ou tido coisas juntas. Na realidade eu estava tentando buscar o elo sentimental daquelas lágrimas. E ela séria e decidida respondeu: “hum, gente rica não vem na casa de pobre, não!” Pronto! Naquele instante eu estava pronto pra ser isolado na ala perigosa de um hospício. Uma voz dentro de minha cabeça começou a berrar perguntando como é que se chora por alguém tão distante? Pra não me entregar as “veias da loucura” busquei o sociólogo Durkheim e seus estudos sobre a morte e seus rituais pra tentar entender o que estava acontecendo ali naquela cena. Sobre a ótica deste pensador a morte não é algo individual e exclusivo a pessoa morta e sim a todo um grupo de envolvidos, seja carnalmente ou até mesmo por mínima identidade. Neste caso em questão variaria desde a inversão na ordem cronológica da sobrinha morrer antes do irmão da minha amiga até a própria consciência da proximidade e existência desta (a morte). Claro que temos que levar em conta os fatores culturais como as ladainhas e tradicionais rituais envolvidos, como luto, velório, etc.

Ufa! Obrigado Émile Durkheim e ao professor Ronnie de antropologia da FSB.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Google faz homenagem com...favela do Rio?

Que porra é esta?
Não teria nada digno pra nos representar?


Cadê o mascote FULECO sinha disgrá?


Tá difícil acordar de manhã neste Brasil. Cadê o mascote da Copa do Brasil? Aquela figura que representa o nosso país?
Em 2012, o tatu-bola foi escolhido como mascote da Copa no Brasil, era mais que um bicho, mais que um símbolo, representava o legado de "proteger a natureza" por estar em via de extinção. Só que a Fifa não destinou um centavo para preservá-lo. Coincidência ou não, o Fuleco anda sumido nos estádios da Copa e não apareceu nem mesmo na cerimônia de abertura do Mundial.
O líder da Associação Caatinga, organização não governamental que propôs o tatu-bola como mascote da Copa, diz que a Fifa tentou um acordo de última hora com grupos que defendem a preservação do animal, mas o valor oferecido era "uma proposta indecorosa" de US$ 300 mil que seriam distribuídos em 10 anos.

A moral da história é que tudo vai ficar por aí mesmo. O tatu-bola é nosso e somos nós que temos que zelar por ele. A FIFA é um organismo PURAMENTE comercial e entende que não vai GANHAR nada com o fuleco, então a tal da ONG deveria aceitar o tal do dinheiro e aproveitar a oportunidade e mostrar este animal (tatu-bola) para o mundo, mas é claro que tem uns de padrão FIFA ($$$$$$$$) dentre desta organização não-governamental também, né? 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Loteria da vida

Tem época que queremos pessoas assim ou assado perto da gente. Na adolescência queremos as maduras, só que descobrimos que os maduros são muito sério. Quando começamos a estudar e trabalhar queremos gente futurosa igual a nós, aí descobrimos que o futuroso é normalmente egoísta e não é legal. Crescemos e trintamos/quarentamos e queremos viver cada segundo da vida, aí descobrimos que a coisa vira uma loteria. Pessoas caladas e observadoras são bem-vindas e as faladoras e divertidas também. Hoje, no intervalo dos 40/50 eu daria meus bois pela alegria, pelo sorriso, pela surpresa agradável, por dar a sorte (lotérica, quem sabe) de ter estas pessoas comigo...

Socraticamente intelectual

Tudo o que escrevo nasceu das minhas experiências e da vontade de acertar. Não me lembro de ter jamais agido de maneira puramente maldosa a algum estímulo virtuoso de bondade , muito menos de maneira violenta/física a um estímulo verbal. Sou tudo que vivenciei: livros que já li, idéias obtidas mesmo que fraudulentamente, experiências alheias e tal.  Tudo exerceu sobre mim algum impacto antes desta digestão alardeada acima. Afirmo categoricamente que tenho pureza d’alma na minha primeira leitura de qualquer coisa que se apresente a mim. Acontece que possuo aquele objeto tão discutido por Freud e seus brilhantes, nas famosas discussões intelectuais que entravam pelas noites, em sua casa: a tal da consciência. Êta que moça complicada e influenciada! Pois é, tudo vai se acumulando na memória e as que não ganham interesse acabam indo para o ainda desconhecido caminho do esquecimento. Só que este desgraçado deste esquecimento é uma grande mentira. Ele (o esquecimento) está ai nos influenciando a todo instante e nós, egocêntricos, achando que são super-poderes, milagres, intuições, etc. Logo somem, depois voltam à tona, reaparecem em sonhos dias, semanas e até anos depois. Quando voltam, se transformam em doce imaginação pessoal. Mas, é só quando nos chega um novo conhecimento (um livro ou um mestre) sobre a questão que me dou conta de que é possível sim ao menos controlá-lo. Quem lê este meu relato imagina que tenho total controle da situação, mas não percebe a complicação que se passa neste meu processo mental. Admito que sejam todos humildes e pipocantes lampejos geniais, improvisos, nada mais.
Estou longe de ser aquela cabeça realmente pensante que irá salvar a humanidade. Minhas idéias iluminadas ainda são analógicas neste mundo digital. Só sou original na minha alma. A alma socrática e não a religiosa, vou chamando logo a atenção! Sócrates unificou alma e razão. Minha alma seria a minha razão! O “pensar”, para mim, seria a exteriorização das sensações e da imaginação. Como eu fui capaz de pensar tão profundo? Lendo, é claro. Pincelando aqui e ali o que julgo ser importante e assim caminha meu mundo. Por isso vou logo avisando aos meus críticos de plantão que nada do que falo e escrevo é original letra por letra. É original a releitura e a adaptação que faço de todo apanhado, isto sim.

Desta forma batam e xinguem a vontade, pois só assim minha alma viverá realmente!

Miopia e cinismo

Ontem tive acesso ao passado desconhecido de um amigo próximo através de suas próprias histórias. Vi o quanto a pressa com que corremos atrás do sucesso (ou sei lá do que) nos torna míopes de coisas muito próximas, de pessoas muito próximas. Sem entrar na coisa de bem ou mal, bom ou ruim, só posso dizer que acordei positivamente surpreso. Claro que as pessoas não tão próximas nos surpreendem também. As caladas, as observadoras ou mesmo as tagarelas que perguntam algo e se adiantam na resposta nos deixando mudos quase todo o tempo, de alguma forma passam a mensagem, passam a química necessária pra que a coisa funcione. São elas que tornam o lugar mais chato do mundo em um lugar extremamente prazeroso. E pra não falar só das flores observamos em volta que o mundo ainda não está preparado pra felicidade alheia. O sorriso, a paz e mesmo a fraternidade presente numa mesa de pessoas "de bem com a vida" provocam o incômodo de muitos. Que culpa tem a felicidade para com a tristeza alheia? Minha visão periférica (aquela que funciona fora do meu campo de atenção) ontem quase que me distraia no que realmente importava. Mas, creio que seja assim mesmo. Talvez, se todos viessem me dar boa noite e perguntar se eu precisava de alguma coisa eu não tivesse tempo pra mais nada.

Simples assim!


Acabem logo com tudo!

Sim, amigo cristão, acho que você tem razão. Tudo pode dar certo se orarmos ou fizermos algo. Boa sorte, os admiro, mas não sigo isto de forma cartesiana. Lá pelos 1950 um brilhante antropólogo francês já sentia arrepios por estas banda e “adivinhava” o que estaria por vir: “...(senti)um inegável poder de auto-destruição e a constatação da falência da civilização”, escreveu Levi-Strauss em Tristes trópicos.
Temos alma de escravo. Beijamos a mão destes políticos desavergonhadamente safados. Assistiremos a Copa que acontecerá no nosso quintal e lá não entraremos porque somos assumidamente lascados. Assim como os evoluídos que ficarão por lá com medos de nós, estaremos pulando e gritando feito idiotas na frente da nova TV comprada por causa deste “nosso” evento. Acho sinceramente que as pessoas devem aprender a ter vergonha na cara. A merda é que tem gente que se sente bem em bajular, em roubar junto e ser visto como amigo do “ômi”.
O que importa mesmo é a roupa nova e o carro pra desfilar, mesmo que ao custo de infinitas parcelas de um interminável financiamento. Educação, saúde, segurança...prumodiquê? Quebrem a Petrobrás, quebrem o INSS, quebrem o BB, quebrem o SUS, enfim acabem logo com tudo pois o Brasil vai ser Hexa!
Me habita pouca esperança de que as pessoas irão mudar e mudar este pais!

Precisamos tratar melhor o turista!

Navagio, na Grécia. E ficamos daqui querendo que o turista se encante somente com nossas belezas naturais e não nos cuidamos de educar nosso povo para o receptivo. A foto mostra que beleza existe no mundo todo!

Envergonhado


Envergonhado por tirar quase nota 10 em Neurociências...pela dúvida de se serei digno de como psicólogo ajudar pessoas!

A Deus


Interrompi meus estudos (fichamento de um texto de 36 páginas) para pedir a Deus por um amigo que solicitou preces em seu nome. Eu estava muito cansado e quase dormindo na mesa, mas após servir a um irmão me vejo incrivelmente disposto a continuar noite adentro. Será Deus? Acredito que seja Ele me dando energia após ver que dei o primeiro passo...

Psicanalizando


Trocentos anos depois...ói eu numa sala de aula tentando aprender psicanálise!

O Michael Schumacher morreu na hora do acidente!


Reajustei a frase dita pelo ex-médico da Fórmula 1, Gary Hartstein, ontem logo após o anuncio da transferência do ex-piloto para a Suiça, país em que a esposa e filhos do hepta-campeão moram. Hartstein  havia dito que não falaria mais sobre o caso depois das polêmicas de suas últimas declarações (quando disse que achava que "nunca mais ouviria notícias boas sobre Schumi"). Para ele “momentos de consciência e despertar” são realmente expressões que indicam a saída do estado de coma. E só! POR DEFINIÇÃO, coma = sem consciência, sem abertura dos olhos. Ainda lembrou que abrir os olhos, mas inconscientemente, é um estado vegetativo. Já ter sinais flutuantes de interação com o ambiente é um estado de consciência mínima. E o que isso significa? O médico diz claramente o que não significa: não significa que Michael estaria indo para uma reabilitação e que iria ter que reaprender tudo: a andar, ler, escrever, etc. Hoje ele seria somente um corpo que sobrevive. O Schumacher que conhecemos não existe mais.

Bem, esta é a afirmação de um técnico na área médica que vive de lógica matemática. Sua razão, até mesmo pra sobreviver e fazer bem o trabalho que escolheu, precisa deste ceticismo. Emocionalismo quando se tem que ter sangue frio é algo negativo. Para nós, que tendemos mais pelo sentimental nos resta crer no sobrenatural, no divino. Se hoje é um corpo que luta pela vida para uns, para muitos outros é um ídolo, um amigo, etc. O mesmo grande campeão, só que em outras áreas.

Do escritor Paulo Prado: "numa terra radiosa vive um povo triste".

Leiam a Bíblia!

Creio que a Bíblia deva de ser relida o tempo todo. Uma dica é que leia como narrativa de alguma coisa que realmente aconteceu. Sobre o Corão, os Vedas e outros, assim como os escritos de Confúcio e Shânkara, não sei o suficiente pra julgar. Não esqueça nunca o conselho de Goethe: “O talento se aprimora na solidão, o caráter na agitação do mundo.” Desta forma, viva a vida no mundo humano, mas aprenda com um bom mestre.
Da minha última bisbilhotagem nas escrituras me veio à curiosidade sobre se fossemos eternos, se não morrêssemos, se tudo fosse pra sempre neste plano terrestre. Nos últimos tempos confesso que não ando desejando esta eternidade para mim, principalmente quando vejo que a juventude se despede e aparecem as rugas, e os poucos fios de cabelo que me restam insistem em platinar. Creio, na realidade, que a vontade de durar pra sempre seja sentida no auge de um instante de felicidade, só que nossos momentos são vividos em sucessão e que aquele fogo-fátuo que brilhou por um instante logo desaparecerá e tudo em volta poderá voltar a ser o “nada”, pois simplesmente as coisas desacontecem. O momento, o instante é que são eternos. Querer que a sucessão de instantes seja eterna é desejar a própria desilusão! Por isso, dizia Platão, vivemos num território precário, num entremundo.
Como somos alimentados pelo meio e a impostura e a hipocrisia tomando conta da escola da vida, ninguém crê mais seriamente num “mundo melhor”. O tempo-bom já ficou muito distante para poder ser humanamente recuperado e só resta uma opção: crer em Deus!

Compro santidade e pago bem!


Não estou nadando em dinheiro, mas posso dar uns reais e mais um Pálio 97 pelo título de santidade igual ao que alguns estão tilintando por ai. Minha única exigência é que o referido título venha acompanhado de um atestado de originalidade ou algo que faça com que eu acredite realmente que sou santo.
Ironias a parte, me enlouquece esta crença de alguns na própria impossibilidade de pecar, derivada da certeza de intimidade com Deus. Confio plenamente que não se trata da conhecida hipocrisia, mas de uma efetiva corrupção da consciência, que, elevada a maior potência, leva o indivíduo a acreditar ser ele um “escolhido”. Só que isto o faz incapaz de julgar suas próprias ações, ao mesmo tempo em que se reveste de toda autoridade moral para condenar os pecados do outro. Também me faz tremer na base quando vejo que o encargo de julgar moralmente o outro cai precisamente sobre aqueles indivíduos que se tornaram os mais incapazes de julgar a si mesmos e o resultado é esse: uma moral invertida, uma antimoral ou mesmo um estelionato moral. Pior é quando se usa de dissimulação, como quando acuado num canto o transgressor inverte os papéis e se faz de vítima, confundindo e prostituindo todas as formas de julgamento. Neste momento, talvez, um agnóstico seja mais respeitador com o Senhor que todos aqueles que dizem crer e seguir a palavra escrita na Bíblia.
Quanto à oferta feita por mim para o título em questão, acabei de desistir. Deixo a grana e o velho carro nos seus respectivos lugares e opto por entregar a Deus o meu julgamento.

A dúvida!

Das duas uma: ou sabem de coisas que eu não sei ou é uma palhaçada!
 

Adeus, grande tio gay!


Outro dia fui comunicado do falecimento de um tio-avô que aos 80 anos mais ou menos tinha morrido em São Paulo. A notícia chegou complementada com o que existe de mais humano no homem: a maldade! Foi assim: -- “ Eduardo, sabia que tio XXXX, aquele que era viado, morreu?”. Pois bem, XXXX nunca pediu segredo para o fato de ser homossexual e por coerência jamais constituiu família tradicional (com mulher) como muitos por aí, não deixando, portanto, descendência. A mesma voz que me anunciara o dito passamento me questionou se eu não queria entrar na justiça junto com ela para termos direito sobre os bens do falecido. Respondi que de forma alguma, afinal era do conhecimento de todos que nosso tio vivia com um companheiro desde o final dos anos 1960 - mais de 40 anos de união - e que era muito feliz. Mesmo a conversa tendo acontecido pelo telefone pude sentir a saliva venenosa dela cuspindo minha orelha nos infindáveis minutos em que tentou justificar que homem com homem era coisa de pervertido, de possessões demoníacas e blá, blá, blá...
Entendo até que não fazer o papai/mamãe insulta o que há de mais caro ao ocidente que é a promessa de Cristo na ressurreição, no Céu e tal, e não é necessário que alguém seja religioso para temer a sentença maldita de ir pro inferno caso se deite com um igual como entendido pela maioria em passagem relâmpago da bíblia. Só que devido a minha resistência a fazer o que ela queria me apareceu até um novo argumento homofóbico que eu nunca tinha ouvido: ela tentou me convencer que se tolerarmos a “viadagem” o mundo iria acabar por falta de gente, pois não se nasce de sexo anal ou oral!!!!
Como esta pessoa que dialogava comigo resolvera colocar uma foice na língua fui obrigado a voltar no tempo e relembrar algumas passagens deste meu tio. Primeiro que era um gentleman. Uma pessoa extremamente educada e culta. Das poucas vezes que voltava a Bahia trazia na mala somente presentes e conversas amenas. Nas ligações mensais era sempre uma voz para oferecer algo e se colocar a disposição. E olha que sofria da parte dos seus todo o tipo de preconceito d’uma Bahia do século XX que tinha a cabeça no XIX ou menos. Hoje sei que como qualquer pessoa que vem visitar seus parentes na cidade natal deveria existir a também humana vontade de trazer aquela pessoa que estava ao seu lado em casa...mas, nunca trouxe, por saber que não seria aceito. Não seria aceito pelo fato de “nós” só enxergarmos o universo homo-carnal e não o que realmente importa: o homo-afetivo!
Desta forma, creio inabalavelmente que meu tio foi pro céu. E se não for, a maioria de nós também não vai de uma forma ou de outra!

Procura-se!

Compro calma e sanidade mental. Pago bem!

Os (nossos) fantasmas!

“Eu vim morar em Valente para melhorar a minha qualidade de vida. Em Salvador, eu convivia com o fantasma da falta de contato humano de verdade. Aqui convivo com o fantasma de gente demais se preocupando com a minha vida, sem me ajudarem”

Todo mundo é assombrado por um fantasma. Eu também sou assombrado por um fantasma. Mas, para não parecer que o meu fantasma é onipresente e é o de todos, precisei dar nome a ele. O nome do meu fantasma é “despeitado”. Se eu estou na praça, o despeitado me assombra na praça. Se eu estou na porta de casa, o despeitado me assombra na porta de casa. Se estou sorrindo com amigos, o despeitado tá lá me olhando. Algum tempo atrás, cheguei a pensar em contatar um médium para tentar despachar este encosto.
Já me perguntaram por que vim morar em Valente. Acho que a partir de agora responderei que eu vim morar em Valente para melhorar a qualidade de meus fantasmas. Mas num período como este, de puro emburrecimento, o máximo que posso fazer é tentar preservar alguns fantasmas do passado, pois acho que eram melhores. Buuuuuuuuuuuu!

Meu bairro em Valente é a Suíça da limpeza


Logo cedinho quando acordo pra comprar o leite no "freguês" (ele entrega de porta em porta aqui) já engatilho o bom-dia pra a dupla de garis responsável pela limpeza pública aqui de minha rua e bairro. São maravilhosos! Verdadeiras máquinas de trabalhar. Por onde passam fica um rastro de higiene e exemplo. Me senti tentado a escrever sobre eles hoje. É uma senhora "cheinha" de corpo e um senhor magro com um pito apagado na boca. Varrem curtinho, tranquilos e quem olhar displicentemente vai dizer que são até preguiçosos. A mulher cantarola nhanhos, nhanhans e unsuns, algo bastante semelhante e abrasileirado do blues cantado pelos escravos norte-americanos nas lavouras de lá. Já ele após uma sequencia de vai e vem, descansa as mãos na cintura e cutuca o chapéu de palha, de tempos em tempos. Recentemente ganharam uniformes, mas a bota deixam em casa (ouvi comentarem uma vez). Pouquinho antes das 7 já somem daqui, tem um bocado de chão ainda pra varrerem. Outro dia os vi próximo a escolinha de meus filhos, a Escola Minha Infância. Na realidade ouvi antes de vê-los, pois uma sonora gargalhada, daquela bem gostosa, os denunciou. Era a gordinha se esbaldando com algo pelo visto muito engraçado! Quem sabe não foi a hora da merenda, que ninguém é de ferro!