sexta-feira, 1 de maio de 2015

  Acredito que a Salvador, terra da alegria e do carnaval esteja restrita a orla marítima do mega-pier do Bahia Marina até a última janela do Ondina Apart-hotel. Fogem a esta regra somente ilhas abonadas como os bairros da Graça, Caminho das Árvores, Horto e Alphaville, por exemplo. Estes, os últimos a ainda contarem com cheiro de policiamento e outros serviços garantidos pelo governo. O resto representa a verdadeira Salvador desprovida de tudo.
  Como eu tive a sorte de nascer no Hospital Português (no bairro da Graça) e encontrar pertinho dali uma confortável casa pra me acolher, dormi na confortável miopia burguesa de ladainhar aos quatro ventos as belezas da primeira capital do Brasil. Mas por este ângulo é bela realmente, sem dúvidas. Como não sê-la morando a 300 metros do maravilhoso Farol da Barra? Inconscientemente, ou disfarçadamente, me anulei a esta percepção e somente hoje enxergo uma condição análoga ao espanto que alguns ainda sentem ao se depararem com o efeito macabro de uma chuvarada sobre Salvador, por exemplo. Fica a pergunta: É de hoje que morre gente aterrada por morros desabados? É de hoje que ruas ficam alagadas ao ponto de cobrirem automóveis? É de hoje que o transporte coletivo é humilhante? Com certeza a resposta é não. Só que as pessoas que porventura teriam condições para fazerem alguma coisa caso se vitimassem por uma destas desgraças normalmente não estão – residem ou trabalham - nesta zona de desconforto. Ou seja, a ascensão social, mesmo que seja via sistema político partidário, implica no contágio a miopia citada acima, resultado da consequente elitização desta quase imprescindível figura pública/heróica. Em poucas palavras: fulano cresceu financeiramente e a primeira coisa que faz é se deslocar socialmente e renegar definitivamente suas origens e problemas.
  Invade-me agora a lembrança de quanto a privilegiada condição social camufla a realidade pública. Volto a uma manhã de meados da década de 80 e eu na época com 15 anos, impossibilitado que estava de ir ao colégio de moto devido à chuva, resolvi ir andando mesmo. Não era perto, mas também não era no fim do mundo. Bastava subir a Graça e atravessar a ponte da UFBA para chegar ao bairro do Canela onde ficava o Colégio Baiano – UCBA. Neste trajeto de pouco mais de 1km rememoro os olhares perdidos dentro de embaçados, deteriorados e espremidos ônibus. Quanto mais eu saia da “ilha” Barra/Graça mais a coisa piorava. Ao passar sobre o Vale do Canela parte da verdadeira Salvador se escancarava, pois ali passam os ônibus coletivos vindo da Cidade Baixa e do subúrbio. Era e é sabido que a frota de ônibus obedece à regra de ser lançada primeiramente nos bairros nobres e conforme for envelhecendo ser empurrada para os bairros periféricos. Na minha volta pra casa o absurdo que nunca vai acabar: os chamados ônibus seletivos com ar-condicionado (naquela época chamados de frescões) que serviam ao Shopping Iguatemi e ao Aeroporto, tinham – e ainda tem hoje - o valor da passagem pouquíssima coisa a mais que os miseráveis ônibus da outra Salvador, num privilégio cruel. Pois era deste serviço diferenciado que eu me beneficiava e que contribuía para a minha (e quem sabe de quantos) dificuldade de enxergar a verdadeira cidade.
  Leio frequentemente textos de amigos e de colegas jornalistas como Tony Pacheco​ e Marconi De Souza Reis​ onde de forma sutil ou não perambulam pelo tema chuva/miséria/política e mais enfaticamente no contraste ontem/hoje. Estas leituras terraplanaram uma longa avenida de mensagens subliminares para mim. A quem vamos culpar hoje? A relação esquerda e direita na política facilitava as coisas até o passamento do velho cabeça-branca. Cabeça-branca? Se quem ler este termo tiver menos de 20 anos provavelmente irá se remeter para a pessoa errada numa prova inequívoca de meus conflitos. Mas falo de ACM e não de Jaques Wagner. Que loucura! A alcunha pouco admirada que pertencia ao mais alto representante do coronelismo na Bahia foi absorvida pelo principal expoente da oposição. É um retrato claro da nossa cidade. Uma cidade que parece sofrer da Síndrome de Estocomo, que para mim seria a única explicação pra que este barril de pólvora não exploda!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Boca no trombone

Se você espera encontrar uma cobertura imparcial na grande mídia hoje em dia, está no mínimo equivocado. A necessidade de grandes manchetes, assuntos instigantes e fontes confiáveis que seriam características do bom jornalismo, foram quase totalmente substituídos pela massiva, cínica e suspeita onda de denuncias de interesses mil. É como se os donos de jornais soubessem que podem contar com a submissão passiva de milhões de abestalhados que eles mesmos adestraram e assim podem vomitar o que quiserem que será totalmente saboreado.
Até onde vai este espalhamento de denúncias na esfera política? A pergunta pode parecer besta, mas não é? Talvez dê numa ação individual louca por parte de um brasileiro contra Dilma como a do jornalista Montazer al-Zaidi que atirou um sapato no ex-presidente americano George Bush , quem sabe? A verdade é que o jornalismo midiático que se pratica hoje em dia já ultrapassou todos os limites éticos. As pautas políticas se sobrepõem infinitamente dependendo exclusivamente da audiência, da circulação e o pior: do lobby econômico.
Êpa, preciso me apressar e explicar que este texto não é um brado petista. Não é o caso. Minha preocupação vem do fato das manchetes atuais só mostrarem a corrupção política como se só existisse política de Brasília. Os réus do processo 470 já foram condenados e estão pagando as respectivas penas, e pronto. Agora se tiver de ser será ou serão novo(s) processo(s), novos réus, novos condenados e tal.
Recentemente um amigo me fez um comentário que foi como um estalo. Ele disse:
--- “...tem gente desonesta no PT, mas o PT não é desonesto pois eu sou PT e não sou desonesto!”.
Dai em diante eu me dei conta de que existe uma sacrificação generalizada de inocentes nesta história toda, e assim como civis nos tempos de guerra, que morrem por estarem na hora errada e no lugar errado, petistas como este meu amigo tem toda sua história confundida com a de “frutas podres”.
Lembrei agora de uma citação de J. Conrad, do início do século XX, que dizia "O autor escreve apenas metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor.". Sendo assim, lembro que existem professores ladrões, mas todos os professores não são. Existem médicos ladrões, mas todos os médicos não são...e assim caminha a humanidade!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A Minha Infância

Minha Infância é o nome da escolinha que meus filhos estudam em Valente, cidade do interior da Bahia e que fica no sertãozão de meu Deus. Durante dois dias foi programado uma leva de apresentações dos alunos do maternal ao 5º ano, na Casa Brasil. O evento teve o nome de A Fabulosa Fábrica de Sonhos. Confesso que a principio fui na obrigação de pai e pouco animado devido a outras festinhas do tipo que já tive oportunidade de ir em anos anteriores e que não me impressionaram. Mas, este ano o amor da turma de funcionários, professores e diretores pelo bem-feito, somado a um inquestionável profissionalismo resultou numa festa maravilhosa.
Eu pessoalmente fui um dos mais atingidos por este ambiente lúdico e muito bem planejado por esta equipe fantástica. Da escolha dos figurinos (por um preço simbólico perante a plasticidade mostrada, diga-se de passagem) até a coreografia e cenografia, tudo foi perfeito.
Desde o começo com os menorzinhos olhando por baixo das cortinas antes da apresentação até o cuidado e atenção com as crianças com necessidades especiais, tivemos um show de grandes momentos. São observações pinceladas por mim e nos mostra uma profunda e positiva alternância de valores no mundo, ensina como nos equivocamos na avaliação das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos as preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos. É por isto que eventos assim são tão importantes nas nossas vidas.Peppa Pig, pelo que posso afiançar aqui em casa, é a personificação de desenhos animados de minha época como Mil e Mao, por exemplo. São só historinhas cheias de coisas positivas e exemplos bons. Foi com este tema que as apresentações tiveram inicio. Confesso que foi emocionante assistir a pró Zane dublando a própria voz em mensagens didáticas atentamente ouvidas por Peppas e Georges (nome do irmão de Peppa...kkkkk. Pois é, eu sei!) . Num só momento tivemos o mundo perfeito: o da inocência das crianças. Show!
Para não ser muito chato preciso generalizar um pouco e falar dos personagem, como Willy Wonka e seus Oompa Loompas, lindamente caracterizados e coreografados. Das lindas princesas e dançarinas, dos MC’s, dos Papai Noel e muitos outros. No olhar da criança não se vê a distinção entre o individuo e o personagem. Naquelas manhãs a mágica aconteceu com eles. Sem dúvidas eles são os próprios ídolos! Nestes dois dias com certeza subiram ao palco os próprios personagens. Poder único pertencente às crianças!Ao final, como não poderia deixar de ser num ambiente latino, uma pomba foi solta por uma criança. Poeticamente posso dizer que ela – a pombinha, símbolo da Paz – relutou em seguir em frente e ganhar os ares, pois atrás de si, no palco, estava a segurança e a pureza que nós adultos perdemos. A segurança e a pureza que só se encontra na infância. Na sua, na nossa e porque não, na Minha Infância.


Quero encerrar estes textinho com uma homengem a um grande escritor brasileiro que passou ao desconhecido esta semana. O matogrossense Manoel de Barros que, assim como as crianças, não hiperbolizava o caro. Valorizava ao extremo o simples.
Leia um tiquinho dele:
"Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim este atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundancia de ser feliz por isto.
Meu quintal é maior do que o mundo".
(Manoel de Barros *1916+2014)

domingo, 9 de novembro de 2014

Por favor, alguém mais velho do que eu levante a mão!




  Por muito tempo fui o caçula em quase tudo na vida. Da salinha do pré-primário até a faculdade e do meu primeiro até o último emprego sempre entrei sendo este tipo de personagem. Precisou de vários anos pra que a coisa deixasse de ser regra. Lamentavelmente, isto só aconteceu devido ao passamento dos meus colegas mais velhos, seja na aposentadoria ou mesmo no derradeiro adeus. Creio que eu, pelo menos nos jornais e assessorias em que trabalhei, tenha sido fadado a ser aquele que fechava a porta, o ciclo, etc. Somente a partir daí vinham os mais novos.
  Hipnotizado pela loucura de desde os meus 23 anos ter trabalhado em redação de jornal – e de fechamento quase todo o tempo – não me dei conta que a maioria destes passamentos se dava sem a minha devida atenção. Quantas vezes eu cheguei em A TARDE e procurava os mais próximos para pedir informações sobre algo gravíssimo que acontecera com um colega na noite anterior mais que no corre-corre do fechamento do jornal não pude dar atenção.
  “Quando entrei no jornal A TARDE, lá no comecinho dos anos 90 – em 1992, mais especificamente – encontrei um mundo “tão” diferente do que deixei no finalzinho da primeira década do século XXI....   Antes, era um mundo de gente que tinha história.”
  Inexplicavelmente, para mim, com o tempo estas pessoas foram sendo “trocadas”. Nunca, em nenhum destes passamentos eu encontrei uma resposta que justificasse esta troca! Os que ascendiam hierarquicamente com estas demissões levantavam a bandeira da justificativa do tipo: “fulano já estava cansado, aposentado, bem de vida ou até mesmo cometiam o puxa-saquismo descarado de dizer que patrão faz o que quer!”. Me alegro de lembrar de uns três que falaram isto e tempos depois saíram mais humilhados ainda.
  Na minha demissão pude assistir “do palco” que a platéia já não era a que conviveu comigo nas mais de cinco mil madrugadas... Claro que deixei alguns contemporâneos, mas foram poucos. De tecnologia do meu tempo somente a veterana rotativa – que já encontrei quando fui contratado, gente! Ela é de 1974... rsrsrsr), só que modernizada com sistema automático de abastecimento de tinta. Por sinal eu nem percebi que demitiram a equipe que fazia isto!
  A tradicional mesinha de centro, com centenas de laudas e diagramas de páginas em branco prontas para serem adornadas pelas velhas Remington (máquinas datilográficas) e réguas de paicas, respectivamente, não mais existia. Em seu lugar o dr. computador reina solene. Sem contar as citadas baixas na redação, acabaram com o setor de revisão e o emprego de mais de 30 colegas, o de fotocomposição com mais 50 colegas, o de montagem de arte-final com mais uns 30 colegas e passaram um pente-fino na parte de fotolito e gravação de chapas com a dona tecnologia nas artes gráficas.
  Hoje, já não tenho mais 23 anos. E nos lugares que ando – nas minhas novas redações da vida, porque não? – estou quase sempre na outra extremidade.

Então, hoje, me alegro por ter... história!

domingo, 27 de julho de 2014

Triste imortal!

  Após bater o ponto ao lado do primogênito na pista de skate num sábado com muito sol na cabeça, eu cheguei em casa e fiquei a garimpar algo de útil. Comecei a fuçar e fuçar. Na pilha de livros empoeirados, muitos até sem capas, num cantinho do escritório, encontrei uma apostila sobre filosofia dos velhos tempo do CEPA, do mestre Germano Machado. Imediatamente, fui remetido a 1989, quando Germano estendera o CEPA para uma das salas do Instituto de Música da UCSal e eu pude me enfeitiçar por suas aulas. Boas lembranças. 
  Antes que eu viajasse nas lembranças e tivesse uma overdose, retorno ao meu adorado escritório e a apostila. O título era: Heidegger e a pessoa imortal. Durante alguns minutos forcei todos os meus poucos neurônios para ver se me faziam lembrar de quem se tratava, pois a semelhança com a loira gelada holandesa (cerveja Heineken) me confundia. Pois é, o tempo passa e até um dos mais importantes filósofos do século XX é trocado por uma cerveja. Que vergonha... 
  Recomposto do vexame adentro o texto como um lobo sedento e após a 5ª página parei pra me colocar como personagem. Parecia que Heidegger queria dizer que as pessoas vivem como se não fossem morrer. Quer dizer, elas escondem de si mesmas que não terão todo o tempo do mundo e que não irão viver pra sempre. Nossa, eu sou uma destas pessoas. Viva a leitura!
  Óbvio que o que pode ser extremamente angustiante para mim, pode não ser para o outro. Ao final, o texto é sobre o motivo de fugirmos desta coisa absoluta e esperada já que esta certeza poderia fazer com que nós vivêssemos uma vida melhor aproveitada. Vivendo as coisas que realmente queremos e não uma vida construída a partir do que as outras pessoas querem ou acham melhor para nós é o caminho. Vou logo alertando que vivemos em sociedade e fazer o que quer obedece a uma lógica social. Uma vida autêntica reside na reflexão da escolha. Culpar outras pessoas pelas escolhas que fazemos é no mínimo uma fuga. 
  Atualmente tenho no meu ciclo de amizade algumas figuras que morreram em vida. Apenas sobrevivem. Tornaram um mau passo dado no passado numa interminável seqüência de erros que somente justificam a mentira anterior. Uma destas figuras está tão enrolada na própria balela que incorporou a hipocrisia no seu cérebro reptiliano. Pois é, a hipocrisia divide espaço com as necessidades básicas de respirar, enxergar, etc. É o fim! O motivo disto é simples: incapacidade de desapegar!
  Desapego é uma coisa difícil eu sei, mas ao mesmo tempo muito fácil de resolver quando se tem pelo menos uma dose de amor-próprio, não é? Definitivamente não, se usarmos a concepção psicológica. Existem os masoquistas e não podemos nos esquecer desta figura. Segundo Freud trata-se de uma neurose. Dentro da mente se entende de alguma forma que assim como o amor a dor e o sofrimento são elos entre duas pessoas ou entre a pessoa e algo. E se se coloca o elo como a essência o destino não pode ser verdadeiro, resultando no masoquista, talvez!
Por exemplo, uma pessoa pode escolher casar por pressão social e/ou religiosa ou permanecer casada pelos mesmos motivos. Neste caso, ela não estará fazendo uma escolha autêntica, baseada em sua própria decisão. Apenas estará levando em conta o desejo e a opinião das outras pessoas. E como disse anteriormente “numa interminável seqüência de erros que somente justificam a mentira anterior”. Tristes imortais!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O ideal é intocável, seja qual for o partido!


Se tenta dizer por aí que o PT está descendo a ladeira e que até o próprio Lula admite que o partido já enfrentaria uma rejeição só esperada para 2018. Para poder falar sobre isto eu preciso deixar claro que a minha posição política sempre foi de independência, principalmente pela minha profissão. Quero dizer, não aceito imposturas de grupos que se acham de esquerda ou de direita. Lamentavelmente, quando se critica uma dessas facções, a outra fica satisfeita e, portanto, a coisa passa a ser toda emocional. De voto que não me arrependo devido a inúmeras situações pessoais, como os inquestionáveis ganhos na esfera social, cito Lula e, por incrível que pareça, FHC pela sua história dentro da Sociologia, respaldado pela esfera de respeitabilidade da USP, na área. Acreditei que FHC com seu vasto conhecimento seria fundamental pra aquele momento no Brasil. Já o voto que eu gostaria de poder ter dado (não pude votar por não ser nascido ou residir em Conceição do Coité) foi para Assis de Coité, que conquistou meu respeito e a minha amizade. E pra que não restassem dúvidas da minha fidelidade nunca o procurei atrás de emprego após sua vitória para prefeito. Tornei-me amigo do homem Francisco de Assis, que pra mim, ainda é maior que o político.
Bem, retornando ao atual momento político, enxergo sem miopia que inconscientemente o brasileiro está acolhendo - principalmente devido à visão jurídica levantada pelo carismático Joaquim Barbosa de “domínio do fato” usada no mensalão (em que se supõe que um superior hierárquico tem obrigatoriamente que saber o que acontece abaixo dele) - a idéia de que o PT é o monstro da vez. Definitivamente discordo desta generalização, como discordo de quase todas as tentativas de se apontar um todo por alguns. Não creio que padre seja pedófilo, pastor seja ladrão, médico só pense em dinheiro, etc. Assim, penso que a igreja é santa independentemente de existirem padres e pastores com desvios de postura. A medicina salva vidas e somente alguns médicos só pensam em dinheiro. Finalmente, alguns petistas (mesmo na cúpula do partido) são corruptos, como nos PSDB’s, Rede’s e Dem’s também o são. Mas preciso ter plena convicção dos prós de todas estas siglas.
Afirmo categoricamente que não acredito mais em uma mudança radical como solução para o Brasil. Digo isto pela visão desequilibrada entre bons e maus políticos. Diversas forças estranhas estão reinando no nosso meio e acabam com qualquer tentativa de se criar uma sociedade socialista e democrática. Estas forças estranhas são os conchavos necessários para se fazer até a mais banal das ações, como podar uma árvore. Sim, podar uma árvore pode ter um custo quase milionário se se pensar em usar os poderes públicos. Com a polarização de partidos hoje na base aliada e conseqüente multipartidariedade nos cargos públicos – necessária para a governabilidade – uma ligação para o podador de arvores vem logo acompanhada por um “quem mandou?” e a isto se seguem infindáveis trocas de ligações oportunistas entre esferas do governo para troca de favores políticos. Ao final deste escambo a poda da árvore custou até um emprego numa estatal. Triste Brasil!
O que é isto? Lá volto eu a falar de Foucault, meu velho aliado nas dúvidas sobre o homem. Foucault afirmou que, em toda sociedade, o que existe são relações de poder e estão em todos os lugares. Entre o pai e os filhos, entre o professor e seus alunos, entre médicos e os pacientes, entre vizinhos, etc. Enfim, todos nós, em maior ou menor grau gostamos de exercer nossos pequenos poderes como se fôssemos tiranozinhos. Por lógica, enxergamos que qualquer mudança positiva teria que vir de cima (do governo) pra baixo, já que o contrário é mais difícil, pois exigiria mais esforço pessoal. Só que esta lógica nos escraviza ao poder demagógico de uma corja de políticos do mal. Aí voltamos lá pra cima do texto de vez. O que precisamos é votar no ideal do partido somado a figura do candidato. Raciocinem comigo: se a visão que se tem e que é aceita por todos é de que o PT fez muito pelo social então esta qualidade deveria estar imaculada, não? O que se vê é fulano que só tem casa devido ao Minha Casa Minha Vida e a comida na mesa graças ao Bolsa Família berrando que nada presta e que o PT é ladrão. Se ele obteve benefícios lícitos com o PT ele poderia até dizer que José Dirceu ou Genoino são ladrões e não o PT com um todo. Estes dois citados anteriormente, por terem passado pelo crivo da justiça e terem sido condenados são realmente culpados. Questionar isto complica mais do que ajuda, pois colocaria em xeque a justiça como um todo e se obrigaria a abrir as portas das penitenciárias todas, ou no mínimo se conceder novo julgamento. Mas, não! É mais fácil queimar o PT. Não acho justo!
Triste é ver que com estas generalizações transformamos a vida política partidária em disputas do tipo Bombril e Assolam ou Guaraná Antarctica e Kuat, que possuem diferenças, mas tão tênue que quase se tornam a mesma coisa... 

domingo, 20 de julho de 2014

Itaparica e o Tiro de Guerra


Achei estas fotos na dona internet e imediatamente fui arremessado para 1986, acredito que no mês de junho. Próximo de completar 18 anos fui à ilha, na cidade de Itaparica, para me alistar no Tiro de Guerra de lá, já que em Salvador eu correria o risco de ser convocado. Naquela época o pavor de servir ao exército aterrorizava os quase adultos dispostos a enfrentar o tal do sorteio. Enfim, lá estava eu acompanhado do fiel amigo de meu avô chamado por mim de “seu” Vieira, escrivão de polícia e um dos poucos frequentadores de minha casa. Após breve procura nos locais mais óbvios como o forte e a prefeitura fomos informados que o Tiro de Guerra ficava numa salinha do Arquivo Público (foto acima). Pra lá fomos imediatamente caminhando pelas desertas ruas do local. Lembro que era mais ou menos 10 horas e a porta estava fechada com um papel colado escrito que o expediente era de 13 até 14hs. Fazer o quê? Saímos para dar uma volta pela histórica cidade e matar o tempo. Almoço de moqueca de siri catado no restaurante sem nome do outro lado do famoso Espanha, que diga-se de passagem, nos 40 minutos da refeição se encontrava aberto e vazio,numa invejável característica de cidadezinha. Trocamos o cochilo depois do almoço por um passeio pra conhecer o velho Hotel Icaraí (foto abaixo), prédio presente em várias fotografias amareladas dos meus avós no tempo dos veraneios por lá. Lembro emocionado até de uma em que meus avós abraçavam meu pai (este com menos de 10 anos à época). Hoje, dos que estavam nas fotos, só restou meu pai com 70 anos. Tristeza.
Acabado o lúdico passeio lá fomos nós ao Tiro de Guerra. O tempo foi passando... 14h30 e nada do “homi”. Quase 15 horas derrepente passa um sujeito de bermuda, com a camisa no ombro, pés e pernas salpicados de areia e se dirige a nós dizendo: “Tão me esperando? Hoje é segunda e tenho baba depois do almoço com o pessoal da delegacia, e é de lei!”. "Cês não são daqui não, né?”. Balançamos a cabeça e nos adiantamos a dizer que tínhamos casa em Barra do Gil e tal. Ele nos pediu 10 minutos "pra jogar uma água no corpo" e saiu sem esperar a resposta. Meia-hora depois chega ele com três mangas espadas na mão pra nós, arrastando os chinelos como se nada tivesse acontecido e vai logo falando que vai pegar os papeis do alistamento e nos avisando que ali era pra quem não queria servir ao exército. Sem muita conversa – já que nosso personagem tinha coisa mais importante pra fazer, com certeza – preenchemos os papeis em menos de 5 minutos e estava tudo pronto. Claro que ele saiu junto com a gente, pois era segunda-feira e com certeza devia ter algum outro compromisso. Viva Itaparica!


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Procura-se um cérebro


  Acredito que meu cérebro de uns tempos pra cá durma pelo menos 20 horas ao dia. É um dorminhoco inveterado. Funciona ativamente somente durante alguns minutos e depois volta a seus lentos passos, para depois outros poucos minutos de ativa e assim sucessivamente. Observo minha estante de livros e vejo que possui moradores famosos como Cervantes, Platão, Monteiro Lobato, Webber, Levi-Strauss, Skinner, Dostoiévski, Machado de Assis, Gilberto Freyre e tantos outros, a maioria herança de família. Lembro que no passado eu chegava a “comer” mais de 40 páginas de uma só vez. Acredito que este hábito tenha sido a fuga encontrada por mim para ficar longe dos pecados cristãos em moda na minha época como masturbação, jogar bola e andar de bicicleta na rua, por exemplo. Me faz bem lembrar isto. De qualquer forma tive uma infância maravilhosa.  Ter lido um tiquinho muitas vezes ainda me faz reconhecer no dia-dia alguma cena destes clássicos e antecipar o seu final. Sim, é possível acontecer isto com aquele que de alguma forma mergulha no mundo infinito da mente humana transcrito em livros.
  O tempo passou e estas informações acabaram criando um personagem em mim mesmo que agora representa um burro. Estou burrificando sem dúvidas alguma. Sinto preguiça até para ler bula de xampu, no banheiro. Recentemente passei numa mega-bookstore num shopping de Salvador e vi a coleção de O Capital, de Max – aquela que alguns dizem ter lido “o livro”, como se fosse um único volume – e me senti impotente para emaranhar-me. Senti minha fraqueza reforçada pela inutilidade de uso desta obra em debates atuais com os companheiros.
  Um pensador tal dizia ou diz que a inteligência seria algo material e palpável, com uma quantidade fixa no mundo. Desta forma para que alguém a ganhe outra deve perdê-la. Talvez seja a explicação para minha preguiça: perdi minha inteligência, mas espero que alguém faça melhor uso dela. O que me restou de lógica me faz crer que o século XXI com certeza esgotou a cota de inteligência no mundo. Hoje, o espaço que existia para esta dádiva foi ocupado pela hipocrisia. Sim, até nas substituições estamos equivocados e os antônimos deixaram de ser os contrários. Estamos na época dos similares e genéricos. O original é desnecessário e caro. Se eu posso aprender a palavra de Deus e dos homens via pessoas de confiança não é necessário ler o original, não é? Eu acho que não, mas...

  Só imploro ao senhor do universo que minha inteligência não vá parar nas mãos de uma boa alma bem-intencionada, pois estas são as piores. Prefiro os escrotos que seguem manuais e normas. Cansei de filhos da puta que se fazem de bom pra levar vantagem.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Tentando transcrever minha ira com o 7 a 1


Aos amigos que me mandaram mensagens perguntando se eu não iria escrever xingamentos e blasfêmias sobre a copa do mundo pra eles “darem risadas”, digo que ainda não tive condições por estar virado na zorra e com o capeta desde aquele 7 a 1.
É preciso que fique claro que para mim o ser humano finge praticar a igualdade com o próximo mesmo sem levantar um dedo pra que esta se dê. Aliás, faz de conta que faz algo pra acabar esta desigualdade e para isto usa a desigualdade pessoal, num flagrante contra-senso. Esta afirmação se baliza quando alguém acredita ser superior nas suas crenças e ideologias, se auto-elegendo dono da verdade, independentemente da figura do outro, seja mentindo, roubando e tal. O brasileiro acredita nesta idéia e desde o anúncio desta famigerada copa do mundo de futebol está apenas extasiado com o próprio mimetismo. Em poucas palavras torna-se um personagem preso a primeira página de um roteiro e que vê no decorrer da novela a impossibilidade de qualquer mudança sob a pena de admitir o erro e descer do trono. Nesta página inicial estaria escrito que seríamos o país do futebol, que teríamos obras faraônicas, que a seleção brasileira era toda formada por heróis e o pior: que Deus era brasileiro. Mas qual o motivo de eu estar falando o óbvio? Não é aqui no Brasil que se leu num livro sagrado que o jumento falou e que isto de alguma forma traria alguma vantagem? Definitivamente, o milagre nestas terras tupiniquins vai além de qualquer estudo etológico. Logo os "defensores da fé" me acusarão de heresia por esta observação. O ridículo dessa gente não tem fim. Cada dia se supera e eu tenho é que fechar meu corpo de algum modo, mesmo com o desprezo.
Tudo muito simples. No dia da festa de abertura do certame uma coreografia meia-boca e uma partida ainda pior da seleção canarinho contra a Croácia com direito a gol-contra brasileiro. O óbvio começara ali a ser subjugado com a desculpa de que seria o nervosismo da estréia. Dali se seguiu um empate sufocante contra o México onde o disfarce do péssimo futebol era substituído pelo tal canto do hino nacional a capela... e outra vitória contra o inexpressivo Camarões sem o craque Samuel Eto’o. Chega as oitavas e empata com o Chile no tempo normal e ganha nos pênaltis, com o frangueiro do Júlio César no gol. Da Colômbia venceu com um gol sem querer de Tiago Silva, o mais covarde capitão que a seleção já teve e outro de bola parada de David Luis. Antes tivesse perdido, pois a seguir veio o vexame de tomar de sete da Alemanha e depois, pra acabar com a tese de apagão que só acontece uma vez na vida, veio o 3 x 0 da Holanda. Como se não pudesse piorar e pra corroborar a tese do começo do texto “se” elegeu David Luis um herói. O que é ser herói afinal de contas? O dito cujo teve culpa em 6 dos 7 gols da Alemanha e dos 3 que a Holanda nos meteu! Em quase todos deixou sua posição original para sair nas fotos. Não tenho mais nada a dizer. O herói brasileiro e seu estado de festa são a desculpa de sua incompetência e pequenez.

Só volto a assistir à outra partida desta seleção quando me trouxerem o hexa!

domingo, 6 de julho de 2014

Tão jovens!

  Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma que eu nunca fui vítima: aquela da inocência da alma. Desde bastante jovem eu já me sentia responsável pelos meus mais simples atos. Não lembro de ter feito nada sem querer, no máximo achava que estava certo. Já fui rebelde com meus avós, pais, irmãos, amigos e professores, mas no fundo minha rebeldia se dava por eu saber que eles jamais revidariam às minhas agressões com força total. Sabemos, por exemplo, que dentro de um círculo de afeição as brigas são na realidade um teatrinho no qual um luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. Lembro de minhas repetidas vitórias sobre meu avô nos jogos de damas, por exemplo. Hoje sei o motivo de eu ganhar todas...
  Muito diferente do que se dá quando saímos da área de conforto que representa a casa de nossos pais, um passo nos separa da segurança para a zona de desprezo e hostilidade onde a ordem é obedecer para não sucumbir. Todo o ganho deste ponto em diante virá acompanhado de alguma forma de perda. O dinheiro virá em troca de suor e até a alegria de alguma forma de dor. E o pior é que isto se dará sem a mediação daqueles de casa que nos dão sempre o direito a descontos e perdões. O mundo se queixa da violência, mas violenta a todos que ousam aventurar fora das saias da mãe. Como as criticadas e temidas gangues de delinqüentes o mundo recebe os recém-saídos de casa com toda a crueldade sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro. Não sem antes infectá-los com alguma forma de mal.
  Lembro de todos os rituais e provações que o mundo me impôs. Quantas humilhações me submeti para poder fazer parte deste mundo e fugir da rejeição e do isolamento para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços de meus avós. Para que isto não aconteça com todos os jovens ele tem de ter a capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria que se dá infelizmente à custa da perda de sua personalidade. Se dói? Não, não dói. Ao contrário, nos submetemos a isso com prazer. Naquele instante é uma vitória e a dor só virá no futuro um pouco distante, na meia-idade, quando nos damos conta de que aquele ingresso custou caro.
E se não formos aceito no grupo? Ai Freud nos faz retornar ao útero e buscar lá o bode expiatório de todas as coisas. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades e exigências do mundo.
        Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama!

domingo, 29 de junho de 2014

O Topless e a hipocrisia


Morando pertinho da praia do Porto da Barra lá pelos anos 80 do século XX ouvi falar de um tal de topless que era a nova moda nas praias do exterior e que tinha chegado por aqui. Ôpa, peitinhos (coisa rara de se ver naquela época) ao vivo, pensei. Já no dia seguinte cheguei às 8 hs na praia e logo acionei o radar. O tempo foi passando e nada de seios nus. Quase meio-dia e nada. Quando eu já me preparava pra ir embora vejo bagunça, gritaria e até areia jogada pra cima próximo a 2º escada. Quando me aproximei vi duas mulheres com os seios cobertos com as respectivas saídas de praia indo embora correndo... enfim, a moda acabou não pegando no século passado apesar de que já existiam as mulatas semi-nuas de Sargentelli, as passistas de escolas de samba e por estas bandas se segurava o tchan, se sentava na boquinha da garrafa, se cantava “chupa toda” e pelo interior do Brasil a moda eternizara o forró de duplo sentido. Mas, topless de jeito nenhum, fincava o Brasil puritano!
Recentemente, século XXI, não esqueçam, assisti na TV Globo uma matéria sobre nova reação negativa das pessoas a topless no Rio de Janeiro e voltei a presenciar a repetição da cena relatada acima na praia do Porto da Barra. Na minha cabeça, a desculpa pra o preconceito no século passado era a dificuldade de se ver “peitinhos” por aí, lembra?. E agora? Hoje, definitivamente, acredito que o problema não era o “estranhismo” com a parte anatômica feminina. Seios, bunda, vagina e pênis envolvidos num ambiente erotizado estão quase no lugar comum pelo pouco critério com que são exibidos na televisão, internet e revistas “sem plástico”.

Legalização do aborto e da maconha, direitos do homossexuais, ética na política e direitos humanos sempre foram temas mais usados pelos candidatos nas eleições para atacar adversários ao invés de discuti-los de fato. Então, não se pode esperar que nada melhore. O preconceito ao topless representa a cara que o brasileiro enxerga no espelho. Cínico, hipócrita e impostor. 

sábado, 28 de junho de 2014

A modinha no Brasil é a merda


Padaria vende pão e livraria vende livros, não é? A primeira entrega saúde e a segunda nos dá duas opções: papel com letras ou saber. Estava eu passeando alegremente por importante livraria de Salvador quando um insight me perturbou questionando-me sobre o motivo de se dar liberdade para que nós cidadãos comuns possamos pegar pela beleza das capas o que iremos ler. Há duas maneiras de ajudar um amigo: tirando os obstáculos de seu caminho ou dando-lhe o que necessita. Ora, a condição mais óbvia para o desenvolvimento da inteligência é a organização do saber. Discernir o importante do irrelevante é o ato inicial da inteligência. Então qual o motivo dos clássicos não estarem agrupados logo a frente dos olhos? Basta isto para que se adquira um senso da diferença entre títulos essenciais - o que importa - e o que não importa. Sem esforço consciente se adquiriria um senso de hierarquia e de orientação no tempo histórico e na cultura.
Só que aqui no Brasil isso não existe. A cultura é gerida para tornar o essencial indiscernível do irrelevante... dinheiro, dinheiro, dinheiro. O efêmero assume o peso do milenar e o irrelevante ocupa o centro do mundo. Simples que dá dó! Ninguém está a salvo, mesmo os mais letrados. Ninguém pode atravessar essa selva. Pra acabar com tudo os mais jovens estão chegando com a arrogância cibernética do sabe tudo estimulado pelo novo pai dos burros: A INTERNET. É impossível discutir com ela.

Quanto mais nos libertamos de um passado que daria sentido à nossa inteligência, mais nos tornamos escravos de uma atualidade que nos desorienta e debilita. Estamos perdidos no meio de um deserto onde é preciso recomeçar sempre o caminho, de novo e de novo, para não chegar à parte alguma. A ordem é esta!

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre o nada e sobre o tudo.

Ficar intermináveis minutos olhando para o horizonte cada dia faz mais sentido. Nestes instantes estamos na realidade atordoados pela quantidade de coisas que fizemos certo e que deram errado e as que fizemos errado e que deram certo. Nada na vida se pode medir de forma matemática, isto é fato. Reclamamos de qual falta? De um amor, de um carro, de uma casa, de saúde, enfim... de quase tudo. Só que os que já tiveram o tudo, pelo menos os citados anteriormente, com certeza ainda sentem a falta de algo. Mas que algo? Fernando Pessoa disse um dia: “... o mundo é de quem não sente e que a ausência de sensibilidade é a condição essencial para levar a vida“. Se ele estava certo podemos afirmar que esta eterna falta nada mais é que a suprema essência de vida. Eu entendo da seguinte forma sem procurar briga (também) com o finado escritor: Viver a vida é não matematizar as coisas. É viver independentemente da quantidade de ar. É viver mesmo se o troco vier faltando ou a mais.
Ontem me vi numa situação que pode se tornar a salvadora da pátria contra meus surtos psicóticos. Encontrei com uma amiga de mais de 90 anos de idade, bastante chorosa, segundo ela pela morte de uma sobrinha. Falei o básico de todas estas horas e se a falecida era uma pessoa próxima e tal. Ela respondeu que havia uns 40 anos que não tinha notícias dela. Pela resposta percebi que tinha sido indiscreto e tentei consertar falando que apesar do tempo sem se verem a sobrinha deveria ter sido muito boa com ela. “Demais, sempre me tratava bem, servia café quando eu ia lá na casa dela... proseava comigo um tempão!”, disse-me. Como eu sou o rei das merdas e pra fechar com chave de ouro perguntei se esta sobrinha já tinha vindo na sua casa ou tido coisas juntas. Na realidade eu estava tentando buscar o elo sentimental daquelas lágrimas. E ela séria e decidida respondeu: “hum, gente rica não vem na casa de pobre, não!” Pronto! Naquele instante eu estava pronto pra ser isolado na ala perigosa de um hospício. Uma voz dentro de minha cabeça começou a berrar perguntando como é que se chora por alguém tão distante? Pra não me entregar as “veias da loucura” busquei o sociólogo Durkheim e seus estudos sobre a morte e seus rituais pra tentar entender o que estava acontecendo ali naquela cena. Sobre a ótica deste pensador a morte não é algo individual e exclusivo a pessoa morta e sim a todo um grupo de envolvidos, seja carnalmente ou até mesmo por mínima identidade. Neste caso em questão variaria desde a inversão na ordem cronológica da sobrinha morrer antes do irmão da minha amiga até a própria consciência da proximidade e existência desta (a morte). Claro que temos que levar em conta os fatores culturais como as ladainhas e tradicionais rituais envolvidos, como luto, velório, etc.

Ufa! Obrigado Émile Durkheim e ao professor Ronnie de antropologia da FSB.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Google faz homenagem com...favela do Rio?

Que porra é esta?
Não teria nada digno pra nos representar?


Cadê o mascote FULECO sinha disgrá?


Tá difícil acordar de manhã neste Brasil. Cadê o mascote da Copa do Brasil? Aquela figura que representa o nosso país?
Em 2012, o tatu-bola foi escolhido como mascote da Copa no Brasil, era mais que um bicho, mais que um símbolo, representava o legado de "proteger a natureza" por estar em via de extinção. Só que a Fifa não destinou um centavo para preservá-lo. Coincidência ou não, o Fuleco anda sumido nos estádios da Copa e não apareceu nem mesmo na cerimônia de abertura do Mundial.
O líder da Associação Caatinga, organização não governamental que propôs o tatu-bola como mascote da Copa, diz que a Fifa tentou um acordo de última hora com grupos que defendem a preservação do animal, mas o valor oferecido era "uma proposta indecorosa" de US$ 300 mil que seriam distribuídos em 10 anos.

A moral da história é que tudo vai ficar por aí mesmo. O tatu-bola é nosso e somos nós que temos que zelar por ele. A FIFA é um organismo PURAMENTE comercial e entende que não vai GANHAR nada com o fuleco, então a tal da ONG deveria aceitar o tal do dinheiro e aproveitar a oportunidade e mostrar este animal (tatu-bola) para o mundo, mas é claro que tem uns de padrão FIFA ($$$$$$$$) dentre desta organização não-governamental também, né? 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Loteria da vida

Tem época que queremos pessoas assim ou assado perto da gente. Na adolescência queremos as maduras, só que descobrimos que os maduros são muito sério. Quando começamos a estudar e trabalhar queremos gente futurosa igual a nós, aí descobrimos que o futuroso é normalmente egoísta e não é legal. Crescemos e trintamos/quarentamos e queremos viver cada segundo da vida, aí descobrimos que a coisa vira uma loteria. Pessoas caladas e observadoras são bem-vindas e as faladoras e divertidas também. Hoje, no intervalo dos 40/50 eu daria meus bois pela alegria, pelo sorriso, pela surpresa agradável, por dar a sorte (lotérica, quem sabe) de ter estas pessoas comigo...

Socraticamente intelectual

Tudo o que escrevo nasceu das minhas experiências e da vontade de acertar. Não me lembro de ter jamais agido de maneira puramente maldosa a algum estímulo virtuoso de bondade , muito menos de maneira violenta/física a um estímulo verbal. Sou tudo que vivenciei: livros que já li, idéias obtidas mesmo que fraudulentamente, experiências alheias e tal.  Tudo exerceu sobre mim algum impacto antes desta digestão alardeada acima. Afirmo categoricamente que tenho pureza d’alma na minha primeira leitura de qualquer coisa que se apresente a mim. Acontece que possuo aquele objeto tão discutido por Freud e seus brilhantes, nas famosas discussões intelectuais que entravam pelas noites, em sua casa: a tal da consciência. Êta que moça complicada e influenciada! Pois é, tudo vai se acumulando na memória e as que não ganham interesse acabam indo para o ainda desconhecido caminho do esquecimento. Só que este desgraçado deste esquecimento é uma grande mentira. Ele (o esquecimento) está ai nos influenciando a todo instante e nós, egocêntricos, achando que são super-poderes, milagres, intuições, etc. Logo somem, depois voltam à tona, reaparecem em sonhos dias, semanas e até anos depois. Quando voltam, se transformam em doce imaginação pessoal. Mas, é só quando nos chega um novo conhecimento (um livro ou um mestre) sobre a questão que me dou conta de que é possível sim ao menos controlá-lo. Quem lê este meu relato imagina que tenho total controle da situação, mas não percebe a complicação que se passa neste meu processo mental. Admito que sejam todos humildes e pipocantes lampejos geniais, improvisos, nada mais.
Estou longe de ser aquela cabeça realmente pensante que irá salvar a humanidade. Minhas idéias iluminadas ainda são analógicas neste mundo digital. Só sou original na minha alma. A alma socrática e não a religiosa, vou chamando logo a atenção! Sócrates unificou alma e razão. Minha alma seria a minha razão! O “pensar”, para mim, seria a exteriorização das sensações e da imaginação. Como eu fui capaz de pensar tão profundo? Lendo, é claro. Pincelando aqui e ali o que julgo ser importante e assim caminha meu mundo. Por isso vou logo avisando aos meus críticos de plantão que nada do que falo e escrevo é original letra por letra. É original a releitura e a adaptação que faço de todo apanhado, isto sim.

Desta forma batam e xinguem a vontade, pois só assim minha alma viverá realmente!

Miopia e cinismo

Ontem tive acesso ao passado desconhecido de um amigo próximo através de suas próprias histórias. Vi o quanto a pressa com que corremos atrás do sucesso (ou sei lá do que) nos torna míopes de coisas muito próximas, de pessoas muito próximas. Sem entrar na coisa de bem ou mal, bom ou ruim, só posso dizer que acordei positivamente surpreso. Claro que as pessoas não tão próximas nos surpreendem também. As caladas, as observadoras ou mesmo as tagarelas que perguntam algo e se adiantam na resposta nos deixando mudos quase todo o tempo, de alguma forma passam a mensagem, passam a química necessária pra que a coisa funcione. São elas que tornam o lugar mais chato do mundo em um lugar extremamente prazeroso. E pra não falar só das flores observamos em volta que o mundo ainda não está preparado pra felicidade alheia. O sorriso, a paz e mesmo a fraternidade presente numa mesa de pessoas "de bem com a vida" provocam o incômodo de muitos. Que culpa tem a felicidade para com a tristeza alheia? Minha visão periférica (aquela que funciona fora do meu campo de atenção) ontem quase que me distraia no que realmente importava. Mas, creio que seja assim mesmo. Talvez, se todos viessem me dar boa noite e perguntar se eu precisava de alguma coisa eu não tivesse tempo pra mais nada.

Simples assim!


Acabem logo com tudo!

Sim, amigo cristão, acho que você tem razão. Tudo pode dar certo se orarmos ou fizermos algo. Boa sorte, os admiro, mas não sigo isto de forma cartesiana. Lá pelos 1950 um brilhante antropólogo francês já sentia arrepios por estas banda e “adivinhava” o que estaria por vir: “...(senti)um inegável poder de auto-destruição e a constatação da falência da civilização”, escreveu Levi-Strauss em Tristes trópicos.
Temos alma de escravo. Beijamos a mão destes políticos desavergonhadamente safados. Assistiremos a Copa que acontecerá no nosso quintal e lá não entraremos porque somos assumidamente lascados. Assim como os evoluídos que ficarão por lá com medos de nós, estaremos pulando e gritando feito idiotas na frente da nova TV comprada por causa deste “nosso” evento. Acho sinceramente que as pessoas devem aprender a ter vergonha na cara. A merda é que tem gente que se sente bem em bajular, em roubar junto e ser visto como amigo do “ômi”.
O que importa mesmo é a roupa nova e o carro pra desfilar, mesmo que ao custo de infinitas parcelas de um interminável financiamento. Educação, saúde, segurança...prumodiquê? Quebrem a Petrobrás, quebrem o INSS, quebrem o BB, quebrem o SUS, enfim acabem logo com tudo pois o Brasil vai ser Hexa!
Me habita pouca esperança de que as pessoas irão mudar e mudar este pais!

Precisamos tratar melhor o turista!

Navagio, na Grécia. E ficamos daqui querendo que o turista se encante somente com nossas belezas naturais e não nos cuidamos de educar nosso povo para o receptivo. A foto mostra que beleza existe no mundo todo!

Envergonhado


Envergonhado por tirar quase nota 10 em Neurociências...pela dúvida de se serei digno de como psicólogo ajudar pessoas!

A Deus


Interrompi meus estudos (fichamento de um texto de 36 páginas) para pedir a Deus por um amigo que solicitou preces em seu nome. Eu estava muito cansado e quase dormindo na mesa, mas após servir a um irmão me vejo incrivelmente disposto a continuar noite adentro. Será Deus? Acredito que seja Ele me dando energia após ver que dei o primeiro passo...

Psicanalizando


Trocentos anos depois...ói eu numa sala de aula tentando aprender psicanálise!

O Michael Schumacher morreu na hora do acidente!


Reajustei a frase dita pelo ex-médico da Fórmula 1, Gary Hartstein, ontem logo após o anuncio da transferência do ex-piloto para a Suiça, país em que a esposa e filhos do hepta-campeão moram. Hartstein  havia dito que não falaria mais sobre o caso depois das polêmicas de suas últimas declarações (quando disse que achava que "nunca mais ouviria notícias boas sobre Schumi"). Para ele “momentos de consciência e despertar” são realmente expressões que indicam a saída do estado de coma. E só! POR DEFINIÇÃO, coma = sem consciência, sem abertura dos olhos. Ainda lembrou que abrir os olhos, mas inconscientemente, é um estado vegetativo. Já ter sinais flutuantes de interação com o ambiente é um estado de consciência mínima. E o que isso significa? O médico diz claramente o que não significa: não significa que Michael estaria indo para uma reabilitação e que iria ter que reaprender tudo: a andar, ler, escrever, etc. Hoje ele seria somente um corpo que sobrevive. O Schumacher que conhecemos não existe mais.

Bem, esta é a afirmação de um técnico na área médica que vive de lógica matemática. Sua razão, até mesmo pra sobreviver e fazer bem o trabalho que escolheu, precisa deste ceticismo. Emocionalismo quando se tem que ter sangue frio é algo negativo. Para nós, que tendemos mais pelo sentimental nos resta crer no sobrenatural, no divino. Se hoje é um corpo que luta pela vida para uns, para muitos outros é um ídolo, um amigo, etc. O mesmo grande campeão, só que em outras áreas.

Do escritor Paulo Prado: "numa terra radiosa vive um povo triste".

Leiam a Bíblia!

Creio que a Bíblia deva de ser relida o tempo todo. Uma dica é que leia como narrativa de alguma coisa que realmente aconteceu. Sobre o Corão, os Vedas e outros, assim como os escritos de Confúcio e Shânkara, não sei o suficiente pra julgar. Não esqueça nunca o conselho de Goethe: “O talento se aprimora na solidão, o caráter na agitação do mundo.” Desta forma, viva a vida no mundo humano, mas aprenda com um bom mestre.
Da minha última bisbilhotagem nas escrituras me veio à curiosidade sobre se fossemos eternos, se não morrêssemos, se tudo fosse pra sempre neste plano terrestre. Nos últimos tempos confesso que não ando desejando esta eternidade para mim, principalmente quando vejo que a juventude se despede e aparecem as rugas, e os poucos fios de cabelo que me restam insistem em platinar. Creio, na realidade, que a vontade de durar pra sempre seja sentida no auge de um instante de felicidade, só que nossos momentos são vividos em sucessão e que aquele fogo-fátuo que brilhou por um instante logo desaparecerá e tudo em volta poderá voltar a ser o “nada”, pois simplesmente as coisas desacontecem. O momento, o instante é que são eternos. Querer que a sucessão de instantes seja eterna é desejar a própria desilusão! Por isso, dizia Platão, vivemos num território precário, num entremundo.
Como somos alimentados pelo meio e a impostura e a hipocrisia tomando conta da escola da vida, ninguém crê mais seriamente num “mundo melhor”. O tempo-bom já ficou muito distante para poder ser humanamente recuperado e só resta uma opção: crer em Deus!

Compro santidade e pago bem!


Não estou nadando em dinheiro, mas posso dar uns reais e mais um Pálio 97 pelo título de santidade igual ao que alguns estão tilintando por ai. Minha única exigência é que o referido título venha acompanhado de um atestado de originalidade ou algo que faça com que eu acredite realmente que sou santo.
Ironias a parte, me enlouquece esta crença de alguns na própria impossibilidade de pecar, derivada da certeza de intimidade com Deus. Confio plenamente que não se trata da conhecida hipocrisia, mas de uma efetiva corrupção da consciência, que, elevada a maior potência, leva o indivíduo a acreditar ser ele um “escolhido”. Só que isto o faz incapaz de julgar suas próprias ações, ao mesmo tempo em que se reveste de toda autoridade moral para condenar os pecados do outro. Também me faz tremer na base quando vejo que o encargo de julgar moralmente o outro cai precisamente sobre aqueles indivíduos que se tornaram os mais incapazes de julgar a si mesmos e o resultado é esse: uma moral invertida, uma antimoral ou mesmo um estelionato moral. Pior é quando se usa de dissimulação, como quando acuado num canto o transgressor inverte os papéis e se faz de vítima, confundindo e prostituindo todas as formas de julgamento. Neste momento, talvez, um agnóstico seja mais respeitador com o Senhor que todos aqueles que dizem crer e seguir a palavra escrita na Bíblia.
Quanto à oferta feita por mim para o título em questão, acabei de desistir. Deixo a grana e o velho carro nos seus respectivos lugares e opto por entregar a Deus o meu julgamento.

A dúvida!

Das duas uma: ou sabem de coisas que eu não sei ou é uma palhaçada!
 

Adeus, grande tio gay!


Outro dia fui comunicado do falecimento de um tio-avô que aos 80 anos mais ou menos tinha morrido em São Paulo. A notícia chegou complementada com o que existe de mais humano no homem: a maldade! Foi assim: -- “ Eduardo, sabia que tio XXXX, aquele que era viado, morreu?”. Pois bem, XXXX nunca pediu segredo para o fato de ser homossexual e por coerência jamais constituiu família tradicional (com mulher) como muitos por aí, não deixando, portanto, descendência. A mesma voz que me anunciara o dito passamento me questionou se eu não queria entrar na justiça junto com ela para termos direito sobre os bens do falecido. Respondi que de forma alguma, afinal era do conhecimento de todos que nosso tio vivia com um companheiro desde o final dos anos 1960 - mais de 40 anos de união - e que era muito feliz. Mesmo a conversa tendo acontecido pelo telefone pude sentir a saliva venenosa dela cuspindo minha orelha nos infindáveis minutos em que tentou justificar que homem com homem era coisa de pervertido, de possessões demoníacas e blá, blá, blá...
Entendo até que não fazer o papai/mamãe insulta o que há de mais caro ao ocidente que é a promessa de Cristo na ressurreição, no Céu e tal, e não é necessário que alguém seja religioso para temer a sentença maldita de ir pro inferno caso se deite com um igual como entendido pela maioria em passagem relâmpago da bíblia. Só que devido a minha resistência a fazer o que ela queria me apareceu até um novo argumento homofóbico que eu nunca tinha ouvido: ela tentou me convencer que se tolerarmos a “viadagem” o mundo iria acabar por falta de gente, pois não se nasce de sexo anal ou oral!!!!
Como esta pessoa que dialogava comigo resolvera colocar uma foice na língua fui obrigado a voltar no tempo e relembrar algumas passagens deste meu tio. Primeiro que era um gentleman. Uma pessoa extremamente educada e culta. Das poucas vezes que voltava a Bahia trazia na mala somente presentes e conversas amenas. Nas ligações mensais era sempre uma voz para oferecer algo e se colocar a disposição. E olha que sofria da parte dos seus todo o tipo de preconceito d’uma Bahia do século XX que tinha a cabeça no XIX ou menos. Hoje sei que como qualquer pessoa que vem visitar seus parentes na cidade natal deveria existir a também humana vontade de trazer aquela pessoa que estava ao seu lado em casa...mas, nunca trouxe, por saber que não seria aceito. Não seria aceito pelo fato de “nós” só enxergarmos o universo homo-carnal e não o que realmente importa: o homo-afetivo!
Desta forma, creio inabalavelmente que meu tio foi pro céu. E se não for, a maioria de nós também não vai de uma forma ou de outra!

Procura-se!

Compro calma e sanidade mental. Pago bem!

Os (nossos) fantasmas!

“Eu vim morar em Valente para melhorar a minha qualidade de vida. Em Salvador, eu convivia com o fantasma da falta de contato humano de verdade. Aqui convivo com o fantasma de gente demais se preocupando com a minha vida, sem me ajudarem”

Todo mundo é assombrado por um fantasma. Eu também sou assombrado por um fantasma. Mas, para não parecer que o meu fantasma é onipresente e é o de todos, precisei dar nome a ele. O nome do meu fantasma é “despeitado”. Se eu estou na praça, o despeitado me assombra na praça. Se eu estou na porta de casa, o despeitado me assombra na porta de casa. Se estou sorrindo com amigos, o despeitado tá lá me olhando. Algum tempo atrás, cheguei a pensar em contatar um médium para tentar despachar este encosto.
Já me perguntaram por que vim morar em Valente. Acho que a partir de agora responderei que eu vim morar em Valente para melhorar a qualidade de meus fantasmas. Mas num período como este, de puro emburrecimento, o máximo que posso fazer é tentar preservar alguns fantasmas do passado, pois acho que eram melhores. Buuuuuuuuuuuu!

Meu bairro em Valente é a Suíça da limpeza


Logo cedinho quando acordo pra comprar o leite no "freguês" (ele entrega de porta em porta aqui) já engatilho o bom-dia pra a dupla de garis responsável pela limpeza pública aqui de minha rua e bairro. São maravilhosos! Verdadeiras máquinas de trabalhar. Por onde passam fica um rastro de higiene e exemplo. Me senti tentado a escrever sobre eles hoje. É uma senhora "cheinha" de corpo e um senhor magro com um pito apagado na boca. Varrem curtinho, tranquilos e quem olhar displicentemente vai dizer que são até preguiçosos. A mulher cantarola nhanhos, nhanhans e unsuns, algo bastante semelhante e abrasileirado do blues cantado pelos escravos norte-americanos nas lavouras de lá. Já ele após uma sequencia de vai e vem, descansa as mãos na cintura e cutuca o chapéu de palha, de tempos em tempos. Recentemente ganharam uniformes, mas a bota deixam em casa (ouvi comentarem uma vez). Pouquinho antes das 7 já somem daqui, tem um bocado de chão ainda pra varrerem. Outro dia os vi próximo a escolinha de meus filhos, a Escola Minha Infância. Na realidade ouvi antes de vê-los, pois uma sonora gargalhada, daquela bem gostosa, os denunciou. Era a gordinha se esbaldando com algo pelo visto muito engraçado! Quem sabe não foi a hora da merenda, que ninguém é de ferro!