quarta-feira, 16 de julho de 2014

Procura-se um cérebro


  Acredito que meu cérebro de uns tempos pra cá durma pelo menos 20 horas ao dia. É um dorminhoco inveterado. Funciona ativamente somente durante alguns minutos e depois volta a seus lentos passos, para depois outros poucos minutos de ativa e assim sucessivamente. Observo minha estante de livros e vejo que possui moradores famosos como Cervantes, Platão, Monteiro Lobato, Webber, Levi-Strauss, Skinner, Dostoiévski, Machado de Assis, Gilberto Freyre e tantos outros, a maioria herança de família. Lembro que no passado eu chegava a “comer” mais de 40 páginas de uma só vez. Acredito que este hábito tenha sido a fuga encontrada por mim para ficar longe dos pecados cristãos em moda na minha época como masturbação, jogar bola e andar de bicicleta na rua, por exemplo. Me faz bem lembrar isto. De qualquer forma tive uma infância maravilhosa.  Ter lido um tiquinho muitas vezes ainda me faz reconhecer no dia-dia alguma cena destes clássicos e antecipar o seu final. Sim, é possível acontecer isto com aquele que de alguma forma mergulha no mundo infinito da mente humana transcrito em livros.
  O tempo passou e estas informações acabaram criando um personagem em mim mesmo que agora representa um burro. Estou burrificando sem dúvidas alguma. Sinto preguiça até para ler bula de xampu, no banheiro. Recentemente passei numa mega-bookstore num shopping de Salvador e vi a coleção de O Capital, de Max – aquela que alguns dizem ter lido “o livro”, como se fosse um único volume – e me senti impotente para emaranhar-me. Senti minha fraqueza reforçada pela inutilidade de uso desta obra em debates atuais com os companheiros.
  Um pensador tal dizia ou diz que a inteligência seria algo material e palpável, com uma quantidade fixa no mundo. Desta forma para que alguém a ganhe outra deve perdê-la. Talvez seja a explicação para minha preguiça: perdi minha inteligência, mas espero que alguém faça melhor uso dela. O que me restou de lógica me faz crer que o século XXI com certeza esgotou a cota de inteligência no mundo. Hoje, o espaço que existia para esta dádiva foi ocupado pela hipocrisia. Sim, até nas substituições estamos equivocados e os antônimos deixaram de ser os contrários. Estamos na época dos similares e genéricos. O original é desnecessário e caro. Se eu posso aprender a palavra de Deus e dos homens via pessoas de confiança não é necessário ler o original, não é? Eu acho que não, mas...

  Só imploro ao senhor do universo que minha inteligência não vá parar nas mãos de uma boa alma bem-intencionada, pois estas são as piores. Prefiro os escrotos que seguem manuais e normas. Cansei de filhos da puta que se fazem de bom pra levar vantagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário