domingo, 27 de julho de 2014

Triste imortal!

  Após bater o ponto ao lado do primogênito na pista de skate num sábado com muito sol na cabeça, eu cheguei em casa e fiquei a garimpar algo de útil. Comecei a fuçar e fuçar. Na pilha de livros empoeirados, muitos até sem capas, num cantinho do escritório, encontrei uma apostila sobre filosofia dos velhos tempo do CEPA, do mestre Germano Machado. Imediatamente, fui remetido a 1989, quando Germano estendera o CEPA para uma das salas do Instituto de Música da UCSal e eu pude me enfeitiçar por suas aulas. Boas lembranças. 
  Antes que eu viajasse nas lembranças e tivesse uma overdose, retorno ao meu adorado escritório e a apostila. O título era: Heidegger e a pessoa imortal. Durante alguns minutos forcei todos os meus poucos neurônios para ver se me faziam lembrar de quem se tratava, pois a semelhança com a loira gelada holandesa (cerveja Heineken) me confundia. Pois é, o tempo passa e até um dos mais importantes filósofos do século XX é trocado por uma cerveja. Que vergonha... 
  Recomposto do vexame adentro o texto como um lobo sedento e após a 5ª página parei pra me colocar como personagem. Parecia que Heidegger queria dizer que as pessoas vivem como se não fossem morrer. Quer dizer, elas escondem de si mesmas que não terão todo o tempo do mundo e que não irão viver pra sempre. Nossa, eu sou uma destas pessoas. Viva a leitura!
  Óbvio que o que pode ser extremamente angustiante para mim, pode não ser para o outro. Ao final, o texto é sobre o motivo de fugirmos desta coisa absoluta e esperada já que esta certeza poderia fazer com que nós vivêssemos uma vida melhor aproveitada. Vivendo as coisas que realmente queremos e não uma vida construída a partir do que as outras pessoas querem ou acham melhor para nós é o caminho. Vou logo alertando que vivemos em sociedade e fazer o que quer obedece a uma lógica social. Uma vida autêntica reside na reflexão da escolha. Culpar outras pessoas pelas escolhas que fazemos é no mínimo uma fuga. 
  Atualmente tenho no meu ciclo de amizade algumas figuras que morreram em vida. Apenas sobrevivem. Tornaram um mau passo dado no passado numa interminável seqüência de erros que somente justificam a mentira anterior. Uma destas figuras está tão enrolada na própria balela que incorporou a hipocrisia no seu cérebro reptiliano. Pois é, a hipocrisia divide espaço com as necessidades básicas de respirar, enxergar, etc. É o fim! O motivo disto é simples: incapacidade de desapegar!
  Desapego é uma coisa difícil eu sei, mas ao mesmo tempo muito fácil de resolver quando se tem pelo menos uma dose de amor-próprio, não é? Definitivamente não, se usarmos a concepção psicológica. Existem os masoquistas e não podemos nos esquecer desta figura. Segundo Freud trata-se de uma neurose. Dentro da mente se entende de alguma forma que assim como o amor a dor e o sofrimento são elos entre duas pessoas ou entre a pessoa e algo. E se se coloca o elo como a essência o destino não pode ser verdadeiro, resultando no masoquista, talvez!
Por exemplo, uma pessoa pode escolher casar por pressão social e/ou religiosa ou permanecer casada pelos mesmos motivos. Neste caso, ela não estará fazendo uma escolha autêntica, baseada em sua própria decisão. Apenas estará levando em conta o desejo e a opinião das outras pessoas. E como disse anteriormente “numa interminável seqüência de erros que somente justificam a mentira anterior”. Tristes imortais!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O ideal é intocável, seja qual for o partido!


Se tenta dizer por aí que o PT está descendo a ladeira e que até o próprio Lula admite que o partido já enfrentaria uma rejeição só esperada para 2018. Para poder falar sobre isto eu preciso deixar claro que a minha posição política sempre foi de independência, principalmente pela minha profissão. Quero dizer, não aceito imposturas de grupos que se acham de esquerda ou de direita. Lamentavelmente, quando se critica uma dessas facções, a outra fica satisfeita e, portanto, a coisa passa a ser toda emocional. De voto que não me arrependo devido a inúmeras situações pessoais, como os inquestionáveis ganhos na esfera social, cito Lula e, por incrível que pareça, FHC pela sua história dentro da Sociologia, respaldado pela esfera de respeitabilidade da USP, na área. Acreditei que FHC com seu vasto conhecimento seria fundamental pra aquele momento no Brasil. Já o voto que eu gostaria de poder ter dado (não pude votar por não ser nascido ou residir em Conceição do Coité) foi para Assis de Coité, que conquistou meu respeito e a minha amizade. E pra que não restassem dúvidas da minha fidelidade nunca o procurei atrás de emprego após sua vitória para prefeito. Tornei-me amigo do homem Francisco de Assis, que pra mim, ainda é maior que o político.
Bem, retornando ao atual momento político, enxergo sem miopia que inconscientemente o brasileiro está acolhendo - principalmente devido à visão jurídica levantada pelo carismático Joaquim Barbosa de “domínio do fato” usada no mensalão (em que se supõe que um superior hierárquico tem obrigatoriamente que saber o que acontece abaixo dele) - a idéia de que o PT é o monstro da vez. Definitivamente discordo desta generalização, como discordo de quase todas as tentativas de se apontar um todo por alguns. Não creio que padre seja pedófilo, pastor seja ladrão, médico só pense em dinheiro, etc. Assim, penso que a igreja é santa independentemente de existirem padres e pastores com desvios de postura. A medicina salva vidas e somente alguns médicos só pensam em dinheiro. Finalmente, alguns petistas (mesmo na cúpula do partido) são corruptos, como nos PSDB’s, Rede’s e Dem’s também o são. Mas preciso ter plena convicção dos prós de todas estas siglas.
Afirmo categoricamente que não acredito mais em uma mudança radical como solução para o Brasil. Digo isto pela visão desequilibrada entre bons e maus políticos. Diversas forças estranhas estão reinando no nosso meio e acabam com qualquer tentativa de se criar uma sociedade socialista e democrática. Estas forças estranhas são os conchavos necessários para se fazer até a mais banal das ações, como podar uma árvore. Sim, podar uma árvore pode ter um custo quase milionário se se pensar em usar os poderes públicos. Com a polarização de partidos hoje na base aliada e conseqüente multipartidariedade nos cargos públicos – necessária para a governabilidade – uma ligação para o podador de arvores vem logo acompanhada por um “quem mandou?” e a isto se seguem infindáveis trocas de ligações oportunistas entre esferas do governo para troca de favores políticos. Ao final deste escambo a poda da árvore custou até um emprego numa estatal. Triste Brasil!
O que é isto? Lá volto eu a falar de Foucault, meu velho aliado nas dúvidas sobre o homem. Foucault afirmou que, em toda sociedade, o que existe são relações de poder e estão em todos os lugares. Entre o pai e os filhos, entre o professor e seus alunos, entre médicos e os pacientes, entre vizinhos, etc. Enfim, todos nós, em maior ou menor grau gostamos de exercer nossos pequenos poderes como se fôssemos tiranozinhos. Por lógica, enxergamos que qualquer mudança positiva teria que vir de cima (do governo) pra baixo, já que o contrário é mais difícil, pois exigiria mais esforço pessoal. Só que esta lógica nos escraviza ao poder demagógico de uma corja de políticos do mal. Aí voltamos lá pra cima do texto de vez. O que precisamos é votar no ideal do partido somado a figura do candidato. Raciocinem comigo: se a visão que se tem e que é aceita por todos é de que o PT fez muito pelo social então esta qualidade deveria estar imaculada, não? O que se vê é fulano que só tem casa devido ao Minha Casa Minha Vida e a comida na mesa graças ao Bolsa Família berrando que nada presta e que o PT é ladrão. Se ele obteve benefícios lícitos com o PT ele poderia até dizer que José Dirceu ou Genoino são ladrões e não o PT com um todo. Estes dois citados anteriormente, por terem passado pelo crivo da justiça e terem sido condenados são realmente culpados. Questionar isto complica mais do que ajuda, pois colocaria em xeque a justiça como um todo e se obrigaria a abrir as portas das penitenciárias todas, ou no mínimo se conceder novo julgamento. Mas, não! É mais fácil queimar o PT. Não acho justo!
Triste é ver que com estas generalizações transformamos a vida política partidária em disputas do tipo Bombril e Assolam ou Guaraná Antarctica e Kuat, que possuem diferenças, mas tão tênue que quase se tornam a mesma coisa... 

domingo, 20 de julho de 2014

Itaparica e o Tiro de Guerra


Achei estas fotos na dona internet e imediatamente fui arremessado para 1986, acredito que no mês de junho. Próximo de completar 18 anos fui à ilha, na cidade de Itaparica, para me alistar no Tiro de Guerra de lá, já que em Salvador eu correria o risco de ser convocado. Naquela época o pavor de servir ao exército aterrorizava os quase adultos dispostos a enfrentar o tal do sorteio. Enfim, lá estava eu acompanhado do fiel amigo de meu avô chamado por mim de “seu” Vieira, escrivão de polícia e um dos poucos frequentadores de minha casa. Após breve procura nos locais mais óbvios como o forte e a prefeitura fomos informados que o Tiro de Guerra ficava numa salinha do Arquivo Público (foto acima). Pra lá fomos imediatamente caminhando pelas desertas ruas do local. Lembro que era mais ou menos 10 horas e a porta estava fechada com um papel colado escrito que o expediente era de 13 até 14hs. Fazer o quê? Saímos para dar uma volta pela histórica cidade e matar o tempo. Almoço de moqueca de siri catado no restaurante sem nome do outro lado do famoso Espanha, que diga-se de passagem, nos 40 minutos da refeição se encontrava aberto e vazio,numa invejável característica de cidadezinha. Trocamos o cochilo depois do almoço por um passeio pra conhecer o velho Hotel Icaraí (foto abaixo), prédio presente em várias fotografias amareladas dos meus avós no tempo dos veraneios por lá. Lembro emocionado até de uma em que meus avós abraçavam meu pai (este com menos de 10 anos à época). Hoje, dos que estavam nas fotos, só restou meu pai com 70 anos. Tristeza.
Acabado o lúdico passeio lá fomos nós ao Tiro de Guerra. O tempo foi passando... 14h30 e nada do “homi”. Quase 15 horas derrepente passa um sujeito de bermuda, com a camisa no ombro, pés e pernas salpicados de areia e se dirige a nós dizendo: “Tão me esperando? Hoje é segunda e tenho baba depois do almoço com o pessoal da delegacia, e é de lei!”. "Cês não são daqui não, né?”. Balançamos a cabeça e nos adiantamos a dizer que tínhamos casa em Barra do Gil e tal. Ele nos pediu 10 minutos "pra jogar uma água no corpo" e saiu sem esperar a resposta. Meia-hora depois chega ele com três mangas espadas na mão pra nós, arrastando os chinelos como se nada tivesse acontecido e vai logo falando que vai pegar os papeis do alistamento e nos avisando que ali era pra quem não queria servir ao exército. Sem muita conversa – já que nosso personagem tinha coisa mais importante pra fazer, com certeza – preenchemos os papeis em menos de 5 minutos e estava tudo pronto. Claro que ele saiu junto com a gente, pois era segunda-feira e com certeza devia ter algum outro compromisso. Viva Itaparica!


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Procura-se um cérebro


  Acredito que meu cérebro de uns tempos pra cá durma pelo menos 20 horas ao dia. É um dorminhoco inveterado. Funciona ativamente somente durante alguns minutos e depois volta a seus lentos passos, para depois outros poucos minutos de ativa e assim sucessivamente. Observo minha estante de livros e vejo que possui moradores famosos como Cervantes, Platão, Monteiro Lobato, Webber, Levi-Strauss, Skinner, Dostoiévski, Machado de Assis, Gilberto Freyre e tantos outros, a maioria herança de família. Lembro que no passado eu chegava a “comer” mais de 40 páginas de uma só vez. Acredito que este hábito tenha sido a fuga encontrada por mim para ficar longe dos pecados cristãos em moda na minha época como masturbação, jogar bola e andar de bicicleta na rua, por exemplo. Me faz bem lembrar isto. De qualquer forma tive uma infância maravilhosa.  Ter lido um tiquinho muitas vezes ainda me faz reconhecer no dia-dia alguma cena destes clássicos e antecipar o seu final. Sim, é possível acontecer isto com aquele que de alguma forma mergulha no mundo infinito da mente humana transcrito em livros.
  O tempo passou e estas informações acabaram criando um personagem em mim mesmo que agora representa um burro. Estou burrificando sem dúvidas alguma. Sinto preguiça até para ler bula de xampu, no banheiro. Recentemente passei numa mega-bookstore num shopping de Salvador e vi a coleção de O Capital, de Max – aquela que alguns dizem ter lido “o livro”, como se fosse um único volume – e me senti impotente para emaranhar-me. Senti minha fraqueza reforçada pela inutilidade de uso desta obra em debates atuais com os companheiros.
  Um pensador tal dizia ou diz que a inteligência seria algo material e palpável, com uma quantidade fixa no mundo. Desta forma para que alguém a ganhe outra deve perdê-la. Talvez seja a explicação para minha preguiça: perdi minha inteligência, mas espero que alguém faça melhor uso dela. O que me restou de lógica me faz crer que o século XXI com certeza esgotou a cota de inteligência no mundo. Hoje, o espaço que existia para esta dádiva foi ocupado pela hipocrisia. Sim, até nas substituições estamos equivocados e os antônimos deixaram de ser os contrários. Estamos na época dos similares e genéricos. O original é desnecessário e caro. Se eu posso aprender a palavra de Deus e dos homens via pessoas de confiança não é necessário ler o original, não é? Eu acho que não, mas...

  Só imploro ao senhor do universo que minha inteligência não vá parar nas mãos de uma boa alma bem-intencionada, pois estas são as piores. Prefiro os escrotos que seguem manuais e normas. Cansei de filhos da puta que se fazem de bom pra levar vantagem.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Tentando transcrever minha ira com o 7 a 1


Aos amigos que me mandaram mensagens perguntando se eu não iria escrever xingamentos e blasfêmias sobre a copa do mundo pra eles “darem risadas”, digo que ainda não tive condições por estar virado na zorra e com o capeta desde aquele 7 a 1.
É preciso que fique claro que para mim o ser humano finge praticar a igualdade com o próximo mesmo sem levantar um dedo pra que esta se dê. Aliás, faz de conta que faz algo pra acabar esta desigualdade e para isto usa a desigualdade pessoal, num flagrante contra-senso. Esta afirmação se baliza quando alguém acredita ser superior nas suas crenças e ideologias, se auto-elegendo dono da verdade, independentemente da figura do outro, seja mentindo, roubando e tal. O brasileiro acredita nesta idéia e desde o anúncio desta famigerada copa do mundo de futebol está apenas extasiado com o próprio mimetismo. Em poucas palavras torna-se um personagem preso a primeira página de um roteiro e que vê no decorrer da novela a impossibilidade de qualquer mudança sob a pena de admitir o erro e descer do trono. Nesta página inicial estaria escrito que seríamos o país do futebol, que teríamos obras faraônicas, que a seleção brasileira era toda formada por heróis e o pior: que Deus era brasileiro. Mas qual o motivo de eu estar falando o óbvio? Não é aqui no Brasil que se leu num livro sagrado que o jumento falou e que isto de alguma forma traria alguma vantagem? Definitivamente, o milagre nestas terras tupiniquins vai além de qualquer estudo etológico. Logo os "defensores da fé" me acusarão de heresia por esta observação. O ridículo dessa gente não tem fim. Cada dia se supera e eu tenho é que fechar meu corpo de algum modo, mesmo com o desprezo.
Tudo muito simples. No dia da festa de abertura do certame uma coreografia meia-boca e uma partida ainda pior da seleção canarinho contra a Croácia com direito a gol-contra brasileiro. O óbvio começara ali a ser subjugado com a desculpa de que seria o nervosismo da estréia. Dali se seguiu um empate sufocante contra o México onde o disfarce do péssimo futebol era substituído pelo tal canto do hino nacional a capela... e outra vitória contra o inexpressivo Camarões sem o craque Samuel Eto’o. Chega as oitavas e empata com o Chile no tempo normal e ganha nos pênaltis, com o frangueiro do Júlio César no gol. Da Colômbia venceu com um gol sem querer de Tiago Silva, o mais covarde capitão que a seleção já teve e outro de bola parada de David Luis. Antes tivesse perdido, pois a seguir veio o vexame de tomar de sete da Alemanha e depois, pra acabar com a tese de apagão que só acontece uma vez na vida, veio o 3 x 0 da Holanda. Como se não pudesse piorar e pra corroborar a tese do começo do texto “se” elegeu David Luis um herói. O que é ser herói afinal de contas? O dito cujo teve culpa em 6 dos 7 gols da Alemanha e dos 3 que a Holanda nos meteu! Em quase todos deixou sua posição original para sair nas fotos. Não tenho mais nada a dizer. O herói brasileiro e seu estado de festa são a desculpa de sua incompetência e pequenez.

Só volto a assistir à outra partida desta seleção quando me trouxerem o hexa!

domingo, 6 de julho de 2014

Tão jovens!

  Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma que eu nunca fui vítima: aquela da inocência da alma. Desde bastante jovem eu já me sentia responsável pelos meus mais simples atos. Não lembro de ter feito nada sem querer, no máximo achava que estava certo. Já fui rebelde com meus avós, pais, irmãos, amigos e professores, mas no fundo minha rebeldia se dava por eu saber que eles jamais revidariam às minhas agressões com força total. Sabemos, por exemplo, que dentro de um círculo de afeição as brigas são na realidade um teatrinho no qual um luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer. Lembro de minhas repetidas vitórias sobre meu avô nos jogos de damas, por exemplo. Hoje sei o motivo de eu ganhar todas...
  Muito diferente do que se dá quando saímos da área de conforto que representa a casa de nossos pais, um passo nos separa da segurança para a zona de desprezo e hostilidade onde a ordem é obedecer para não sucumbir. Todo o ganho deste ponto em diante virá acompanhado de alguma forma de perda. O dinheiro virá em troca de suor e até a alegria de alguma forma de dor. E o pior é que isto se dará sem a mediação daqueles de casa que nos dão sempre o direito a descontos e perdões. O mundo se queixa da violência, mas violenta a todos que ousam aventurar fora das saias da mãe. Como as criticadas e temidas gangues de delinqüentes o mundo recebe os recém-saídos de casa com toda a crueldade sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro. Não sem antes infectá-los com alguma forma de mal.
  Lembro de todos os rituais e provações que o mundo me impôs. Quantas humilhações me submeti para poder fazer parte deste mundo e fugir da rejeição e do isolamento para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços de meus avós. Para que isto não aconteça com todos os jovens ele tem de ter a capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria que se dá infelizmente à custa da perda de sua personalidade. Se dói? Não, não dói. Ao contrário, nos submetemos a isso com prazer. Naquele instante é uma vitória e a dor só virá no futuro um pouco distante, na meia-idade, quando nos damos conta de que aquele ingresso custou caro.
E se não formos aceito no grupo? Ai Freud nos faz retornar ao útero e buscar lá o bode expiatório de todas as coisas. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades e exigências do mundo.
        Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama!