terça-feira, 17 de junho de 2014

Adeus, grande tio gay!


Outro dia fui comunicado do falecimento de um tio-avô que aos 80 anos mais ou menos tinha morrido em São Paulo. A notícia chegou complementada com o que existe de mais humano no homem: a maldade! Foi assim: -- “ Eduardo, sabia que tio XXXX, aquele que era viado, morreu?”. Pois bem, XXXX nunca pediu segredo para o fato de ser homossexual e por coerência jamais constituiu família tradicional (com mulher) como muitos por aí, não deixando, portanto, descendência. A mesma voz que me anunciara o dito passamento me questionou se eu não queria entrar na justiça junto com ela para termos direito sobre os bens do falecido. Respondi que de forma alguma, afinal era do conhecimento de todos que nosso tio vivia com um companheiro desde o final dos anos 1960 - mais de 40 anos de união - e que era muito feliz. Mesmo a conversa tendo acontecido pelo telefone pude sentir a saliva venenosa dela cuspindo minha orelha nos infindáveis minutos em que tentou justificar que homem com homem era coisa de pervertido, de possessões demoníacas e blá, blá, blá...
Entendo até que não fazer o papai/mamãe insulta o que há de mais caro ao ocidente que é a promessa de Cristo na ressurreição, no Céu e tal, e não é necessário que alguém seja religioso para temer a sentença maldita de ir pro inferno caso se deite com um igual como entendido pela maioria em passagem relâmpago da bíblia. Só que devido a minha resistência a fazer o que ela queria me apareceu até um novo argumento homofóbico que eu nunca tinha ouvido: ela tentou me convencer que se tolerarmos a “viadagem” o mundo iria acabar por falta de gente, pois não se nasce de sexo anal ou oral!!!!
Como esta pessoa que dialogava comigo resolvera colocar uma foice na língua fui obrigado a voltar no tempo e relembrar algumas passagens deste meu tio. Primeiro que era um gentleman. Uma pessoa extremamente educada e culta. Das poucas vezes que voltava a Bahia trazia na mala somente presentes e conversas amenas. Nas ligações mensais era sempre uma voz para oferecer algo e se colocar a disposição. E olha que sofria da parte dos seus todo o tipo de preconceito d’uma Bahia do século XX que tinha a cabeça no XIX ou menos. Hoje sei que como qualquer pessoa que vem visitar seus parentes na cidade natal deveria existir a também humana vontade de trazer aquela pessoa que estava ao seu lado em casa...mas, nunca trouxe, por saber que não seria aceito. Não seria aceito pelo fato de “nós” só enxergarmos o universo homo-carnal e não o que realmente importa: o homo-afetivo!
Desta forma, creio inabalavelmente que meu tio foi pro céu. E se não for, a maioria de nós também não vai de uma forma ou de outra!

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