quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre o nada e sobre o tudo.

Ficar intermináveis minutos olhando para o horizonte cada dia faz mais sentido. Nestes instantes estamos na realidade atordoados pela quantidade de coisas que fizemos certo e que deram errado e as que fizemos errado e que deram certo. Nada na vida se pode medir de forma matemática, isto é fato. Reclamamos de qual falta? De um amor, de um carro, de uma casa, de saúde, enfim... de quase tudo. Só que os que já tiveram o tudo, pelo menos os citados anteriormente, com certeza ainda sentem a falta de algo. Mas que algo? Fernando Pessoa disse um dia: “... o mundo é de quem não sente e que a ausência de sensibilidade é a condição essencial para levar a vida“. Se ele estava certo podemos afirmar que esta eterna falta nada mais é que a suprema essência de vida. Eu entendo da seguinte forma sem procurar briga (também) com o finado escritor: Viver a vida é não matematizar as coisas. É viver independentemente da quantidade de ar. É viver mesmo se o troco vier faltando ou a mais.
Ontem me vi numa situação que pode se tornar a salvadora da pátria contra meus surtos psicóticos. Encontrei com uma amiga de mais de 90 anos de idade, bastante chorosa, segundo ela pela morte de uma sobrinha. Falei o básico de todas estas horas e se a falecida era uma pessoa próxima e tal. Ela respondeu que havia uns 40 anos que não tinha notícias dela. Pela resposta percebi que tinha sido indiscreto e tentei consertar falando que apesar do tempo sem se verem a sobrinha deveria ter sido muito boa com ela. “Demais, sempre me tratava bem, servia café quando eu ia lá na casa dela... proseava comigo um tempão!”, disse-me. Como eu sou o rei das merdas e pra fechar com chave de ouro perguntei se esta sobrinha já tinha vindo na sua casa ou tido coisas juntas. Na realidade eu estava tentando buscar o elo sentimental daquelas lágrimas. E ela séria e decidida respondeu: “hum, gente rica não vem na casa de pobre, não!” Pronto! Naquele instante eu estava pronto pra ser isolado na ala perigosa de um hospício. Uma voz dentro de minha cabeça começou a berrar perguntando como é que se chora por alguém tão distante? Pra não me entregar as “veias da loucura” busquei o sociólogo Durkheim e seus estudos sobre a morte e seus rituais pra tentar entender o que estava acontecendo ali naquela cena. Sobre a ótica deste pensador a morte não é algo individual e exclusivo a pessoa morta e sim a todo um grupo de envolvidos, seja carnalmente ou até mesmo por mínima identidade. Neste caso em questão variaria desde a inversão na ordem cronológica da sobrinha morrer antes do irmão da minha amiga até a própria consciência da proximidade e existência desta (a morte). Claro que temos que levar em conta os fatores culturais como as ladainhas e tradicionais rituais envolvidos, como luto, velório, etc.

Ufa! Obrigado Émile Durkheim e ao professor Ronnie de antropologia da FSB.

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