Ficar intermináveis minutos olhando para o horizonte cada
dia faz mais sentido. Nestes instantes estamos na realidade atordoados pela
quantidade de coisas que fizemos certo e que deram errado e as que fizemos
errado e que deram certo. Nada na vida se pode medir de forma matemática, isto
é fato. Reclamamos de qual falta? De um amor, de um carro, de uma casa, de
saúde, enfim... de quase tudo. Só que os que já tiveram o tudo, pelo menos os
citados anteriormente, com certeza ainda sentem a falta de algo. Mas que algo?
Fernando Pessoa disse um dia: “... o mundo é de quem não sente e que a ausência
de sensibilidade é a condição essencial para levar a vida“. Se ele estava certo
podemos afirmar que esta eterna falta nada mais é que a suprema essência de
vida. Eu entendo da seguinte forma sem procurar briga (também) com o finado
escritor: Viver a vida é não matematizar as coisas. É viver independentemente
da quantidade de ar. É viver mesmo se o troco vier faltando ou a mais.
Ontem me vi numa situação que pode se tornar a salvadora da
pátria contra meus surtos psicóticos. Encontrei com uma amiga de mais de 90
anos de idade, bastante chorosa, segundo ela pela morte de uma sobrinha. Falei
o básico de todas estas horas e se a falecida era uma pessoa próxima e tal. Ela
respondeu que havia uns 40 anos que não tinha notícias dela. Pela resposta percebi
que tinha sido indiscreto e tentei consertar falando que apesar do tempo sem se
verem a sobrinha deveria ter sido muito boa com ela. “Demais, sempre me tratava
bem, servia café quando eu ia lá na casa dela... proseava comigo um tempão!”,
disse-me. Como eu sou o rei das merdas e pra fechar com chave de ouro perguntei
se esta sobrinha já tinha vindo na sua casa ou tido coisas juntas. Na realidade
eu estava tentando buscar o elo sentimental daquelas lágrimas. E ela séria e
decidida respondeu: “hum, gente rica não vem na casa de pobre, não!” Pronto!
Naquele instante eu estava pronto pra ser isolado na ala perigosa de um
hospício. Uma voz dentro de minha cabeça começou a berrar perguntando como é
que se chora por alguém tão distante? Pra não me entregar as “veias da loucura”
busquei o sociólogo Durkheim e seus estudos sobre a morte e seus rituais pra
tentar entender o que estava acontecendo ali naquela cena. Sobre a ótica deste
pensador a morte não é algo individual e exclusivo a pessoa morta e sim a todo
um grupo de envolvidos, seja carnalmente ou até mesmo por mínima identidade.
Neste caso em questão variaria desde a inversão na ordem cronológica da
sobrinha morrer antes do irmão da minha amiga até a própria consciência da
proximidade e existência desta (a morte). Claro que temos que levar em conta os
fatores culturais como as ladainhas e tradicionais rituais envolvidos, como
luto, velório, etc.
Ufa! Obrigado Émile Durkheim e ao professor Ronnie de
antropologia da FSB.
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