domingo, 9 de novembro de 2014

Por favor, alguém mais velho do que eu levante a mão!




  Por muito tempo fui o caçula em quase tudo na vida. Da salinha do pré-primário até a faculdade e do meu primeiro até o último emprego sempre entrei sendo este tipo de personagem. Precisou de vários anos pra que a coisa deixasse de ser regra. Lamentavelmente, isto só aconteceu devido ao passamento dos meus colegas mais velhos, seja na aposentadoria ou mesmo no derradeiro adeus. Creio que eu, pelo menos nos jornais e assessorias em que trabalhei, tenha sido fadado a ser aquele que fechava a porta, o ciclo, etc. Somente a partir daí vinham os mais novos.
  Hipnotizado pela loucura de desde os meus 23 anos ter trabalhado em redação de jornal – e de fechamento quase todo o tempo – não me dei conta que a maioria destes passamentos se dava sem a minha devida atenção. Quantas vezes eu cheguei em A TARDE e procurava os mais próximos para pedir informações sobre algo gravíssimo que acontecera com um colega na noite anterior mais que no corre-corre do fechamento do jornal não pude dar atenção.
  “Quando entrei no jornal A TARDE, lá no comecinho dos anos 90 – em 1992, mais especificamente – encontrei um mundo “tão” diferente do que deixei no finalzinho da primeira década do século XXI....   Antes, era um mundo de gente que tinha história.”
  Inexplicavelmente, para mim, com o tempo estas pessoas foram sendo “trocadas”. Nunca, em nenhum destes passamentos eu encontrei uma resposta que justificasse esta troca! Os que ascendiam hierarquicamente com estas demissões levantavam a bandeira da justificativa do tipo: “fulano já estava cansado, aposentado, bem de vida ou até mesmo cometiam o puxa-saquismo descarado de dizer que patrão faz o que quer!”. Me alegro de lembrar de uns três que falaram isto e tempos depois saíram mais humilhados ainda.
  Na minha demissão pude assistir “do palco” que a platéia já não era a que conviveu comigo nas mais de cinco mil madrugadas... Claro que deixei alguns contemporâneos, mas foram poucos. De tecnologia do meu tempo somente a veterana rotativa – que já encontrei quando fui contratado, gente! Ela é de 1974... rsrsrsr), só que modernizada com sistema automático de abastecimento de tinta. Por sinal eu nem percebi que demitiram a equipe que fazia isto!
  A tradicional mesinha de centro, com centenas de laudas e diagramas de páginas em branco prontas para serem adornadas pelas velhas Remington (máquinas datilográficas) e réguas de paicas, respectivamente, não mais existia. Em seu lugar o dr. computador reina solene. Sem contar as citadas baixas na redação, acabaram com o setor de revisão e o emprego de mais de 30 colegas, o de fotocomposição com mais 50 colegas, o de montagem de arte-final com mais uns 30 colegas e passaram um pente-fino na parte de fotolito e gravação de chapas com a dona tecnologia nas artes gráficas.
  Hoje, já não tenho mais 23 anos. E nos lugares que ando – nas minhas novas redações da vida, porque não? – estou quase sempre na outra extremidade.

Então, hoje, me alegro por ter... história!

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